Data: 14-11-2011
- "Viajo para a Itália em outubro."
- "De novo?"
- "Saiu minha cidadania italiana e vou fazer o juramento à bandeira na cidade onde nasceu meu avô, fica na fronteira com a Áustria."
- "Marciano, nunca pensei que tu fosses oriundi."
O novo italiano pegou o copo de uísque e sacudiu para derreter o gelo, depois sorveu vários pequenos goles, estalou a língua e respondeu orgulhoso:
- "Pois sou, o italiano era pai de meu pai, mas com nome alemão."
- "Eu conheço uma pessoa que quer ir para a Itália, tu não podes ajudar?"
- "Claro."
- "Vou dar teu celular, tá legal?"
A ligação chegou no dia seguinte, era voz de mulher.
- "Seu Marciano, aqui é Michelle, amiga do Jorginho, ele me deu o seu número."
- "És tu que estás querendo ir para a Europa?"
- "Isso mesmo."
- "Também queres fazer cidadania de algum país?"
- "Não, eu só quero trabalhar lá."
- "Isso pode ser complicado. Precisamos sentar para conversar sobre os problemas de entrada na Europa. Eu estudei isso, e muito, antes de pensar na minha cidadania, é conversa longa."
- "O senhor não pode vir na minha sala no centro, uma hora dessas, quando estiver livre?"
- "Amanhã de manhã eu tenho uma reunião às oito e devo estar livre lá pelas dez."
A moça passou o endereço e disse que lhe aguardaria no dia seguinte, que iria desmarcar todos seus compromissos.
Marciano chegou na hora marcada. Era um edifício comercial construído na década de 70, desgastado pelo uso, mas em bom estado de aparência, limpo e pintado recentemente, que é freqüentado por pequenos empresários e alguns profissionais liberais. Bateu na porta intrigado, pois não havia identificação alguma, apenas o número da sala. Estranho, pensou, divulgar o que se faz é sempre bom, mas ela parece não ligar. Surgiu em sua frente uma mulher de cerca de trinta anos, com o rosto muito pintado, sapato de saltos exageradamente altos, meias longas, bermuda curta e uma camisa do Figueirense amarrada provocativamente abaixo dos seios.
- "Seu Marciano?"
- "Isso."
- "Que bom que o senhor veio. Entre, por favor."
Marciano gostou da acolhida simpática da moça, mas achou que usava roupas muito sensuais. Percebeu logo com quem estava tratando.
- "Queres ir para a Europa, Michelle?"
- "Pois é, querer eu quero, mas estou com medo."
- "Já tens oferta de trabalho lá?"
- "Tenho uma conhecida que me disse que pode ser minha empresária, ela me manda a passagem de ida."
- "Tu tens dinheiro que justifique um passeio?"
- "Claro que não, ela vai me mandar só um pouco para despesas durante a viagem."
Marciano percebeu. Era mais uma brasileira que iria fazer a fama que nossas mulheres têm mundo a fora. Mais uma rotadora de bolsinha em terras do Velho Mundo.
- "Michelle, não me leves a mal, mas os fiscais de imigração farejam mulheres de tua profissão de longe, vão te mandar de volta no ato."
- "O senhor acha?"
- "Tenho certeza."
- "Mesmo se eu oferecer uma boa massagem para ele?"
- "Nem tenta, eles vão te encanar por suborno e depois te deportar do mesmo jeito."
- "Me disseram que se eu for acompanhada de algum homem que diga que sou mulher dele é mais fácil."
Marciano ficou assustado com a proposta. Poderia arranjar encrenca grossa. Imaginou que a dona pudesse levar um quilo de farinha da pura na bagagem, encomendada pela cafetina italiana, e ele ser preso como traficante internacional. Ou ser acusado de agenciador para o tráfico de mulheres. Tentou se esquivar com resposta vaga.
- "Vou pensar no que tu queres e ver se é possível."
- "Obrigada. Agora eu lhe convido para experimentar minha massagem relaxante."
Ficou tentado, a dona era gostosa, mas tinha que se resguardar do perigo de se envolver com ela. Inventou uma
desculpa.
- "Hoje não posso. Vou sair com uma namorada nova à noite, tenho que estar em forma."
Naquela mesma tarde ligou para o amigo Jorginho cobrando o abacaxi.
- "Pô, cara, tu tás querendo me ver em cana? Podias ter me avisado que ela é profissional do amor."
- "Tu ainda vais me agradecer. Ela é boa gente."
- "O que é que estás devendo pra ela?"
Jorginho deu uma gargalhada gostosa. Marciano podia imaginar que sentia o corpo do amigo se contorcendo de rir pelo telefone.
- "Faz tempo que vou lá uma vez por mês. Ela é ótima e da última vez não cobrou, disse que era cortesia para o velho freguês."
- "E quem vai pagar a conta sou eu? Vê se te manca, cara."
- "Experimentaste a massagem tailandesa que ela faz?"
- "Não, nem quero. Não me meto com prostitutas."
- "Viste que belos seios ela tem?"
- "Vi, realmente espetaculares, impossível não ver. Garanto que são puro silicone."
- "Não. Sem plástica! São deliciosamente naturais. E é com os seios que ela massageia o corpo. Cara, é espetacular."
Marciano hesitou por um tempo.
Nunca tinha ouvido falar de massagem com os seios, isso funciona?
- "Cura tudo! Dizem que tem velhinho que chega todo encurvado e sai ereto como guri. Só faz bem."
- "Olha a propaganda enganosa. Tás falando isso porque deves pra ela."
- "Marciano, estou falando a verdade, é ótimo, devias experimentar."
Calado ele meditava sobre aquelas afirmações tentadoras, qualquer leitor realmente macho estará com eróticos devaneios neste instante. As feministas sentindo asco. Poderia ser realmente bom, mas como saber? Se experimentasse se sentiria envolvido com ela, com a obrigação de retribuir em favor, isso já estava claro.
- "Jorginho, tu achas que se eu a levo ela se sentiria obrigada em retribuir?"
- "Certamente. Já estás com tesão na moça, hein?"
- "Não é isso, é que vou estar muito tempo lá sozinho, sem amigos para conversar."
- "Chegando lá ela vai para o trabalho, cara, vai ser difícil arranjar tempo para conversar contigo."
Marciano sentiu que tinha que voltar atrás, arranjar uma desculpa.
- "Mas, quem sabe se ela não me dá uma massagem por dia enquanto eu não volto e me cura desse nervo ciático?"
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