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Natal 2011
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 20-12-2011


Foi rápido, não? Quando menos se espera é Natal, já estamos correndo em busca daquele presente do visitante imprevisto, daquele pernil gostoso como no ano passado, já estamos excitados com a festa. Nem vou falar do que me aconteceu (e foi muito!), em um ano experimentei o que viveria em dez, caso tivesse nascido um século antes. E foi ótimo, apesar dos sustos e dos desesperos, afinal a graça da vida é isso mesmo. Basta observar os torcedores amantes de futebol, que vivem desesperados e não param de buscar meios de se torturar. Depois falam orgulhosos:

- “Esse time só me traz alegria!”

Há uma razão para eu gostar do Natal e vou contar a história de meu Papai Noel preferido. Em 25 de dezembro de 1903, no alto da serra em Bom Retiro, nascia Henrique Deucher, meu avô. O menino foi alfabetizado em alemão em casa por professor imigrante, mas estudou apenas alguns meses. Aos oito anos de idade já era tropeiro e trabalhava com seu pai. Nessas viagens aprendeu a arte de negociar e tornou-se um empresário de sucesso. Pouco depois da Segunda Guerra Mundial mudou-se para Florianópolis, foi o primeiro da família a descer a montanha e naturalmente passou a anfitrião de todos os parentes que vinham para a capital em busca de estudo e oportunidades. Desde que nasci, e enquanto morávamos em Floripa, nossas casas eram vizinhas e vi toda essa gente que chegava sem avisar em demanda de cama, mesa, ajuda e conselhos nunca negados mesmo quando não havia espaço suficiente para mais um. Meu avô era pessoa de um coração imenso.

Os Deucher eram religiosos, originalmente luteranos, e sempre comemoraram o Natal com orações e hinos. Sendo aniversário de nosso patriarca e tendo os parentes dever de gratidão, a festa era em “nossa” casa. Nossa porque não fazíamos distinção entre as casas de meus pais e de meus avós, vivíamos lá e cá. Na noite da véspera ainda se comemorava o aniversário de casamento deles, mas quem ganhava presentes éramos nós, as crianças.

Já não os tenho, eles se foram há mais de uma década e o vazio é enorme. Já não vejo os primos nem os tios-avós (estes também nos deixaram), o íman que aglutinava a família perdeu o magnetismo. Restam as lembranças, mistura do sentimento gostoso daqueles dias imaculados com o sabor salgado das lágrimas da saudade e da certeza triste de que nunca mais vou viver momentos iguais. Mas há o outro lado da moeda, sempre há, posso dar às minhas netas algum exemplo parecido, posso tentar amaciar o tombo diário da vida, lubrificar o atrito entre alguns viventes. Pelo menos no Natal.

Gostava de ver aquela gente toda dentro de casa tomando guaraná, porque meus avós não bebiam álcool. Gostava de sentir os abraços dos mais velhos e de ouvir seus comentários, algumas vezes em alemão, sobre os milímetros que eu teria crescido desde a última vez que me viram ou sobre meu futuro promissor.

Meu avô era o Papai Noel que nunca colocava aquele traje vermelho, ele distribuía presentes anonimamente, comprava pessoalmente todos os itens de alimentação, estabelecia o cardápio. Eu quero tentar ser o mesmo, embora saiba que jamais chegarei perto do que ele foi com retidão e exemplo. Principalmente pela sua paciência, não me lembro de vê-lo destemperado.

Cada um de nós tem o seu avô muitas vezes incorporado em outra pessoa, talvez muito mais discreta, muito menos impactante. Toda criança sonha com uma noite perfeita, com presentes e carinho, sem se dar conta que sonha. Qualquer gesto de bondade que lhes leve algum presente, algum afeto, desperta nelas o mesmo que meu avô despertava em mim; a figura do Papai Noel é exatamente isso, um avô universal, igual para todos.

Podemos fazer um quase nada que é muito sendo um pouco Henrique Deucher. É certo que alguém vai gostar, talvez sem o cuidado de agradecer. Quando damos afeto o estamos ganhando de volta de nós mesmos; dar carinho é mágico e podemos nos tornar crianças quando o fazemos projetando nossos sentimentos naquelas que bajulamos. Se a vida nos ensinou a sermos duros, o Natal nos permite uma trégua nessa constante defesa.

O Natal é festa de nascimento de uma pessoa importante, corresponde à mesma alegria que sentimos quando um bebê entra para a família ou para uma casa amiga. É impossível ver uma criança de colo sem que tenhamos ímpeto de segurar e abrigar. Está no sistema operacional de um computador chamado cérebro, é inevitável, e pode ser chamado de muitas coisas: instinto, amor, afeição. Uma criança é um ser mágico. Se você não é cristão por religião, não importa, pode comemorar o nascimento de um pensador que, como Sócrates, não deixou seu legado escrito, mas é belo e moldou nossa sociedade. Só que muito mais citado do que o pai da filosofia.

Permita que o sentimento de bondade lhe invada a alma, vai lhe fazer bem, temos que exercitar isso de vez em quando e a data é perfeita. Sei de budistas que comemoram o Natal, sei de islamistas e judeus que o fazem, porque é bom, porque traz paz.

Então é isso que lhe desejo, que possa sentir esse vazio que sinto quando você pensar nos seus velhinhos que se foram, no seu longínquo Papai Noel, com evocações de saudade e carinho. Desejo que tenha alguém para que seja sua criança amada, mesmo que seja filho do vizinho, ou que seja um adulto a quem você queira bem, que lhe devolva a fraternidade.

Se isso se realizar, sua comemoração natalina será um sucesso, não importando o quanto e o que você comer e beber. E estando feliz, pode passar dos limites.

É minha maneira de lhe desejar que o Natal seja, o que todos dizem ao léo, até sem pensar, um Feliz Natal.


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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