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Colunas


Ressaca da Despedida de Solteiro
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 27-12-2011

 

Era um fim de tarde de setembro e havia muito tempo que aquela patota não se reunia para uma cerveja sob o quiosque do trapiche do Veleiros da Ilha. Os dias de inverno costumam ser ventosos e beber naquela palhoça varrida pelo pampeiro é prova de estoicismo, não um prazer a ser desfrutado em companhia de amigos, todavia aquela era uma tarde de meteorologia benfazeja. Marciano tinha estudado a previsão na internet consultando todos os sítios especializados que ele conhecia, mais os búzios do Nêgo Antonho e percebendo uma surpreendente trégua na sua gota, concluiu que teriam um final de tarde de verão, seco, sem vento e com temperatura em torno de 23 graus. Agarrou-se ao telefone e convocou a galera. Havia que se aproveitar a ocasião e para motivar os amigos bebuns ele anunciava uma novidade no grupo, o retorno do Amílcar que estava desaparecido desde sua festa de despedida de solteiro na Whiskeria Doces Suspirus, um dos eventos mais comentados no submundo da putaria desenfreada que assola nossa Ilha da Magia. Cerveja e putaria (mesmo que só contada por amigos) é coisa que o brasileiro médio não dispensa.

Já tinha bastante gente no local e o marido fresco ainda não chegara, mas havia confirmado sua presença para o organizador Marciano, aliás, todo o grupo havia sido confirmado, o que era coisa rara, motivado pela curiosidade para saber os detalhes sórdidos e hediondos do que rolara naquele ágape.

Outro retorno de importância era o do doutor Mauro, aquele advogado conservador que havia feito uma condescendência e quebrara seu comportamento de marido imaculado para acompanhar os amigos à tal despedida, feito que o marcou de forma indelével. Estava mudado, diferente, embora mantivesse a gravata apertada como sempre, mesmo ali bebendo com os amigos. Tinha o semblante alterado, raspara o bigode que era uma de suas marcas registradas, e pintara os cabelos para esconder os fios brancos, que tinham agora aquela notória cor mais escura do que o normal, o tom que torna ridículo todo homem que faz isso (desculpa aê quem foi (a)tingido). Marciano, que gosta de uma pugna, acossou o amigo.

- “Maurinho, o que fizeste no cabelo?”

- “Nada, não faço nada além de cortar.”

- “E essa pintura?”

O acusado estava desconfortável com o assalto, não estava preparado para ele. Ainda não tinha sido questionado sobre as pinturas na peruca; no ambiente de trabalho a formalidade não permitia aos pares entrar no assunto, mas naquela roda de amigos havia intimidade. Tentou negar.

- “Que pintura?”

Roda interveio do outro lado da mesa. Suas palavras soaram para o doutor Mauro como um rugido ameaçador.

- “Tenho um amigo psiquiatra que diz que quando homem pinta cabelo está ficando broxa, ou foi corneado, ou tá pensando em sair do armário, ou mais uma coisa que não me lembro.”

Um dos membros da confraria, Loyola, atacou o corpo caído. Em roda de amigos ser acusado sem chance de defesa é como em briga de bar, quem cai apanha de todos os valentões oportunistas que batem com a segurança de que não pode haver revide.

- “Mauro, deixa de ser babaca, teus cabelos brancos sumiram e a cor está mais escura do que o normal.”

- “É que eu não queria falar disso.”

Meditou um pouco antes de aceitar a derrota, percebeu que capitular seria menos doloroso.

- “Mas, tá legal, confesso, quero manter uma aparência mais jovial.”

“Isso é por conta da mulata gaúcha? Como é mesmo o nome dela?”

- “Dora.”

Marciano havia previsto que o amigo seria presa fácil de alguma mulher jovem, caso saísse da monotonia de seu relacionamento conjugal. Começou a imaginar o drama de consciência dele, por ser conservador e prezar, nas conversas, sempre sua família. Abordou o assunto.

- “Cara, faz tempo que estás com esse cacho, a tua mulher vai desconfiar, não achas que está na hora de parar com essa brincadeira?”

- “Já é tarde, a Nara já descobriu.”

- “Andou cheirando a tua roupa? Mulheres ciumentas fazem isso.”

- “Foi a corretora vacilona que ligou lá pra casa pra avisar que o contrato de aluguel do apartamento estava pronto pra eu assinar.”

Roda ficou alarmado com o que ouvia.

- “Tu já alugasse apartamento pra vagaba?”

- “Peraê! Vagaba, não! Ela me disse que não é prostituta, mas que só fazia shows eróticos pra se sustentar enquanto faz faculdade.”

Roda interveio.

- “Ah, lembrei do que faltava.”

Marciano percebeu que era sacanagem, deu uma ajuda com uma pergunta estudada.

- “Roda, lembrasse do que faltava onde?”

- “Do cara que pinta o cabelo. Ou tá ficando broxa, ou foi corneado, ou assumiu a viadagem ou arranjou uma guria nova e sabe que não vai dar conta.”

Loiola costuma permanecer calado e interfere pouco, mas quando o faz costuma ser contundente.

- “Provavelmente a guria era virgem até que o Maurinho comeu.”

O álcool ainda não fizera seu efeito de provocar euforia no grupo, mal estavam iniciando a bebedeira, mas Maurinho já estava corajoso, já não era ponderado como de costume, fechou o semblante e respondeu em tom de revolta, mas ainda contido de alguma forma.

- “Vamos deixar de sacanagem, respeito é bom e eu gosto. Eu sei que a Dora não era nenhuma santa, mas ela me disse que nunca fez sexo por dinheiro, que tinha namorado e era fiel a ele.”

- “E ela largou do namorado garotão pra ficar contigo que foste colega do avô dela na escola básica?”

- “No começo eu achei que não ligava, eu só queria dar umazinha ou outra e cair fora, mas eu gostei da brincadeira e sou muito ciumento e disse pra ela largar dele.”

- “E ela não ligava que tu eras casado?”

- “Nem um pouquinho, quem mostrou que tinha ciúmes foi a Nara.”

Marciano bebeu um largo gole de cerveja antes de criar coragem para fazer uma pergunta crítica.

- “Mauro, tu vais morar com essa mulher?”

- “Já me mudei.”

- “Mesmo sabendo que ela teve essa vida devassa? Eu li num livro do Jorge Amado um diálogo em que uma puta dizia para outra que não se casasse, porque mulheres da vida não se acostumam a um homem só.”

Pouco a pouco o álcool ia minando o juízo dos presentes e o pequeno Mauro já estava se sentindo agigantado.

- “Olha aqui, Marciano, vou ter que te chamar pra porrada! Eu já disse que ela não é puta, porra!”

Marciano gosta de briga, parece que está no nome que é homenagem ao Deus da Guerra, mas a idade amolece o mais duro dos corações e ele teve um momento de rara lucidez pacifista.

- “Não leves as coisas ao pé da letra, Maurinho, aqui é tudo brincadeira, nós somos velhos amigos e temos essa intimidade. Se te ofendi eu peço desculpas.”

Mal terminara o mea culpa, Marciano percebeu a chegada tardia do novo marido, que pelo tempo decorrido desde as bodas já não merecia o título de recém casado, mais de três meses. Todos se levantaram para cumprimentar o chegante.

Loiola fez outra observação drástica.

- “Já engordasse. Isso é bom sinal.”

- “Estou sendo bem tratado, é café com frutas e bolo de manhã, almoço em casa quase todo dia e a Martinha faz um feijão que é uma delícia.”

- “Tem sobremesa?”

- “Servida na cama.”

- “Então devias estar mais magro.”

A risada geral seria perfeita para relaxar o clima tenso da resposta ácida de Maurinho, mas ele foi o único a permanecer circunspecto.

O que todos queriam saber era do final da festa. Já haviam conversado sobre ela em outras ocasiões, falado da cavalgada da mulata Dora nas costas de Maurinho que resultara em paixão, das brincadeiras feitas por quase todos os presentes naquela noite, mas faltava o depoimento do protagonista do evento, o solteiro que se despedira. Roda assuntou o fuzuê memorável.

- “Mica, conta pra nós como é que tu voltaste pra casa naquela noite.”

- “Não voltei, dormi no puteiro.”

- “Com a loura peituda?”

- “Ela e mais duas, eles tinham preparado um quarto com uma cama enorme, cortesia da casa.”

- “E desse conta?”

- “Santo Viagra, dei.”

- “E as outras, valiam a pena?”

- “Tem uma que eu quero repetir, tenho até o celular dela, qualquer hora eu ligo.”

- “Só uma vale a pena o bis?”

- “Todas valem. Tinha uma japinha gostosa, mas a melhor transa foi uma loucura, a mulher é demais, foi com aquela guria que montou no Maurinho.”


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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