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Colunas


Dois Tarados Pedalando
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 29-04-2013


Marciano estava se acostumando ao novo brinquedo. Havia aderido à moda do consumo sustentável e comprado uma bicicleta do tipo mountain bike. Coisa linda, fibra de carbono, freios a disco hidráulicos, uma belezoca de sete mil e quinhentos mangos. Saía quase todos os dias e incitava os amigos para as pedaladas. No seu computador havia criado uma pasta de favoritos que chamava pedal, com vários sítios que visitava diariamente. E tornou-se assíduo frequentador aliado às gangues noturnas que passeiam por Floripa.


Entusiasmado, falava muito de suas façanhas e do quanto se sentia bem durante e depois do exercício. Certa vez, bebendo com a turma de sempre no Barlavento, disse que seu desempenho sexual havia melhorado com o melhor preparo físico, que a melhora no sistema cardiovascular estava associada com a virilidade. O amigo Maurinho foi quem colocou dúvida na assertiva.

- “Eu ouvi dizer que bicicleta causa impotência.”

Num ambiente exclusivamente masculino qualquer afirmativa ou desconfiança no que toque à macheza é coisa a ser levada a sério.

- “Maurinho, não necessariamente, pode causar, sim.”

Roda, o velho amigo de tantas aventuras boas e frustrantes interpelou:

- “Eu ando com vontade de comprar uma magrela, mas se essa merda é broxante, nem pensar.”

- “Não é broxante, só acontece se o atleta estiver mal orientado.”

Marciano serviu-se de mais cerveja, aos costumes, sorveu um longo gole sob o olhar inquisidor da plateia que aguardava calada a complementação do pensamento. O assunto de pau broxante é tão sério quanto ameaça de morte. E quando a broxada é real, seja por diabetes, pressão alta, velhice, ou cuca, é preferível morrer. Só que o cara não morre e, o que é uma tortura existencial, vai ter que conviver com aquela linguiça mole, que nem mijar direito mais mija, pelo resto de sua vida sem graça. Porque tudo que se faz na vida tem, como dizia Freud com toda propriedade, como objetivo final o sexo.

- “Andei pesquisando e perguntei a um famoso urologista daqui de Floripa sobre isso. O cara é muito competente e pedala tão bem quanto faz sua medicina. Tudo o que li bate com o que ele falou.”

Roda estava curioso porque queria entrar para uma tribo de pedalistas.

- “Ontem eu até fui ver bicicletas nas lojas e quase comprei uma com um banco bem largo, bem estofado e confortável.”

Marciano respondeu com ar de indignado:

- “Cara, não faças isso. Bancos estofados e macios são péssimos.”

- “Mas eu não to a fim de pedalar sentado num pau duro.”

A gargalhada foi geral com várias interferências.

- “Sempre aguentaste!”

- “Tá ficando mentiroso depois de velho!”

Marciano sentiu que estava em posição difícil. A verbalização de Roda tornava o restante de sua explicação difícil.

- “Na verdade, o banco duro é o melhor, mas não é para ser duro demais.”

- “Marciano gosta de pau mole!”

- “Eu sabia. Depois que o Roda se exprimiu mal, tinha que sobrar pra mim.”

Roda sorriu e adicionou:

- “Eu fiz de propósito.”

- “Os selins ideais são estreitos e cobertos com uma fina camada de gel ou tecido macio, não se deve apoiar pelo períneo. Tudo isso é para que não se impeça a circulação sanguínea. Alguém aqui já sentiu o pinto dormente pedalando?”

Cezão, um dos mais pesados da turma, daqueles que têm muita força física, mas sucumbem à preguiça para fazer exercícios, confirmou:

- “Eu tenho uma bicicleta dessas com selim macio e já senti. Mas até que gostei da sensação do Bartolomeu formigando.”

- “Pois esse é o perigo. A falta de irrigação é que dá essa sensação, é isquemia provocada por pressão mecânica. Isso pode causar impotência.”

A galera não perdoou.

- “Aê Cezão, o Bartolomeu já não é mais o mesmo, é por isso que só anda de cabeça baixa.”

- “Bem que a gente tem notado que a Rita tem estado triste ultimamente.”

Marciano explicou que o apoio do ciclista se dá pelos ísquios, e que estes ossos têm um afastamento que varia de pessoa para pessoa. O correto é medir a distância entre eles e com esse dado se escolhe o tamanho de selim adequado.

- “Nas boas lojas de bicicletas eles têm uma almofada gel em que a pessoa se senta por alguns minutos e os ísquios ficam marcados. Com isso o vendedor mede a distância entre eles e sabe o tamanho certinho do selim.”

A conversa seguiu e o assunto derivou para vela, mulheres e futebol, como costuma acontecer em qualquer ambiente náutico onde amigos estejam reunidos para beber e conversar, não necessariamente nesta ordem.

Passou-se a semana e Roda ligou para seu consultor para assuntos de relacionamento entre rabo e selim:

- “Marciano, comprei uma bicicleta! Cosa mash linda!”

- “Maravilha, vou pedalar às sete. Vamo junto?”

- “Vamo.”

O sujeito apareceu todo paramentado: capacete, luvas, camiseta do Tour de France, bermudas colantes, luzes piscantes na bicicleta.

- “Roda, tás bunitin, aparecendo mash que novo rico de carro novo. Mas isso tudo aí corresponde ao desempenho?”

- “Porra, Marciano, vai devagar, já chegas me sacaneando?”

Saíram a pedalar conversando e observando as meninas que passavam. Floripa é um colírio para os olhos masculinos, a cidade é cheia de mulheres esculturais. Havia um grupo de moças de patins que captaram a atenção dos velhos tarados pela harmonia de suas curvas.

- “Marciano, essa mulherada me fez lembrar uma coisa.”

- “Que faz tempo que não sabes o que é uma xota?”

- “Nada disso. É que na sexta-feira vai ter uma pedalada pelada.”

- “Não sabia. E olha que eu visito os sites de ciclismo quase todos os dias.”

- “Vamo conferí?”

- “Vamo.”

Naquela mesma noite, depois de verificar a autenticidade da informação, Marciano enviou mensagens aos conhecidos convidando para o happening. O amigo Luis, um velho e fanático ciclista, foi o único que respondeu:

Estou sabendo.

Não vou porque prefiro pedalar de madrugada. Não espere encontrar belos corpos. Pra isso tens que ir na Joaca ou na Mole.

A mulherada participante é baranga, ruim de cabeça, e não gosta de homem.

Não diz que não avisei. Boa sorte.

Luis.

Na sexta-feira os dois se encontraram na ciclovia uma hora antes do evento. Pedalavam lentamente especulando como seria o passeio que iria colocar Floripa no mapa das cidades socialmente mais civilizadas do planeta. Um protesto contra a falta de respeito aos ciclistas e quase total ausência de ciclovias.

- “Vai ser legal. Nós estamos precisando disso, que o povo perceba a importância do ciclismo.”

- “É. E aqui a mulherada é mesmo liberal. Eu não acho que vai ser como na mensagem do Luis, que disse que só vai baranga.”

- “Claro que não. A gente bem que podia dar uma chegada lá mais cedo e ver o pessoal pintando os corpos com dizeres de protesto.”

- “Que tal dar uma mãozinha?”

E foram.

Chegaram ao local anunciado e não havia vivalma. Passearam pelas redondezas e voltaram no horário marcado. Pouca gente.

Fizeram o exercício aeróbico da noite sem a motivação que esperavam e se despediram laconicamente. No dia seguinte Marciano se encontrou com o amigo ciclista.

- “E aí? Como foi a peladada.?”

- “Dois tarados procurando pombas numa noite vazia.”

- “Não teve?”

- “Teve e não teve.”

- “Coméqueé?”

- “Não vi nem uma pomba depenada.”

- “Eu avisei. E o que tinha?”

- “Quetzalcóaltl!”

- “Cuetz o que?”

- “Quetzalcóaltl!”

- “Que merda é essa?”

- “A serpente emplumada dos astecas.”

Uma risada do amigo Luis.

- “Foi sorte, podia ter sido pior, como avisei. Ver a cobra com penas é ruim, mas se tivesses visto uma daquelas horrorosas pombas depenadas eu ia ter que te depenar pra poder ter pena de ti.”

- “Vai à merda!”

- “Pedalando?”

 


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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