Data: 07-11-2011
Recebi a notícia por mais de um amigo, daqueles que mandam tudo o que chega na caixa de email para a frente. Veio anexa à mensagem que normalmente nem abro; ele costuma repassar corrente de simpatia de santa (daquelas que se você não repassa vai morrer na semana que vem), alerta de sequestro, notícia de carro movido a pensamento, motores que não consomem energia, denúncias contra políticos corruptos, abaixo-assinados contra o abate de gado, essas coisas, mas, tenho que reconhecer, pelo menos dez por cento desse lixo digital é divertido e vale a pena abrir. O problema é saber, sem mexer na merda, o que não fede. Mas eu gostei do título que me deixou curioso e abri. Casualmente o assunto é um lixo mesmo, mas um lixo interessante, trata-se de uma prostituta que ganhou renome fora da cama, mas a partir do que sabe fazer melhor: sexo. Isso sempre é interessante.
O anexo recebido trata de uma jovem de 23 anos, Ana Claudia Silvestre, que já tem de patrimônio cerca de dois milhões de reais, sendo quatro apartamentos em áreas nobres de Belo Horizonte e o restante, próximo de 800 mil, em fundos de renda fixa. Fiquei com a impressão de ser mais um hoax, nome que se dá a essas falsas notícias que circulam pela internet, tipo não abra o arquivo com fotos da Gisele Buendchen em Búzios, que é um vírus poderoso que vai derreter seu HD, conforme advertido pela Microsoft. Googleei com o nome dela e dei de cara com muitas páginas relativas ao fato, o que não quer dizer que não seja hoax. O fato de estar publicada em várias páginas pode ser notoriedade da meretriz ou notoriedade do hoax.
Por falar em notoriedade, ela cobra de quarenta a cinquenta mil reais por palestra motivacional que faz a corporações, equivalente ao que cobra o técnico de vôlei mais vencedor da história, o Bernardinho, para o mesmo serviço. Eu me pergunto: o que é que ela faz que consegue se igualar em valor a um desportista que já tem de profissão mais do que ela tem de idade? Da parte dos homens, o fato de ela ser gostosa, fácil e esperta, faz com que todos queiram ouvi-la. Da parte das mulheres, a lição sempre proveitosa de aprender a tirar leite de pedra, mesmo que seja pedra mole. E trata-se de pessoa com muita experiência de vida, embora ainda jovem, que hoje tem mais horas de cama do que o Lula de vôo. O que é efetivamente um feito.
Brevemente teremos pais e mães ansiosos por passarem esses conceitos para suas filhas, na esperança de que elas consigam o mesmo status, a mesma qualidade de vida, no futuro. Se o leitor discorda, lembro de uma atriz de filmes pornográficos (não chega a ser prostituição, mas é semelhante, em ambos casos fazem sexo por dinheiro) que tronou-se apresentadora de programas infantis de sucesso. Rapidamente, na tentativa de limpar o passado, ela recomprou todas as fitas (na época ainda não havia DVD) das locadoras do país, e muitos pais passaram a exaltar a vagaba. Claro que nem todas as películas foram destruídas e, vez por outra, um desses internautas, que repassa tudo que recebe para todos os amigos, me manda um filminho da moça (que já é coroa) levando bronca. Acho que era assim, o pai entrava numa fila enorme para conseguir um ingresso e levava a cria para o xou (essa é fina). Lá ficava assistindo na platéia se imaginando na cama com a Bruxa.
A reportagem diz que a Ana Claudia agora cobra R$15.000,00 por bimbada, para reduzir o número de clientes e poder se dedicar à conclusão de sua monografia de pós-graduação. Dá para imaginar que tenha sido muito mais barato no passado enquanto ela não tinha a notoriedade atual, embora fosse ainda mais jovem e inexperiente, o que paradoxalmente costuma ser valorizado pela clientela desse tipo de serviços. Trabalhou muito, coitada. Ela também declara em suas palestras que tem que aumentar o ticket médio, agregar valor ao produto e fazer vendas periféricas. Agregar valor ao produto é fazer com que o cliente perceba mais do que o oferecido. No caso, não apenas uma trepadinha, tem que haver muito mais do que isso, mais do que uma ejaculação precoce, o contratante deve se sentir dono do pedaço por uma noite, ela deve fingir estar apaixonada. Depois, ele deve ser valorizado, ela tem que descobrir que qualidades ele tem nas quais se considere bom; se for metido a cantor poderá ser comparado a um Pavarotti, ou James Taylor, ou Xitãozinho, de acordo com o nível cultural do freguês, se ele se julga um Adônis deve ser elogiado pela beleza física, mentindo que seu físico lembra o do Schwartzenneger quando jovem. Ela vai mais longe, afirma que se não tiver algum ponto positivo, deve-se inventar, pois o prazer sexual do homem só é completo se ele sentir que dominou a fêmea. Em português claro e direto, o que ela quer dizer em suas palestras é que homem é bobo.
Quem paga quinze contos por uma xana, pode fazer outras extravagâncias, eu sugiro que tome um avião e vá a Fernando de Noronha, ou Miami, com ela. Vai num dia, volta no outro, de primeira classe, é mais caro, mas vai poder contar pros amigos do feito.
- “Conheci a ilha com uma gatona.”
- “A ilha é bonita?”
- “Do avião é linda.”
- “E de terra?”
- “Só me lembro da perereca da Ana Claudia.”
Dentre seus conselhos para sua audiência, fala de pudores, diz que esposa pode tê-los, amantes de aluguel jamais. Que tipo de platéia é a dela? Não se deve ter pudor? Pode-se roubar, desviar, chantagear, tudo isso junto ou separado, desbragadamente? Acho que os principais ouvintes devem ser políticos, advogados ou pastores de igrejas de periferia. Mas há um lado positivo nisso, se as esposas assistirem a palestra saberão que, por pouco dinheiro, uma profissional de segundo escalão, em troca de um décimo do cachê Ana Claudia, mas com as mesmas qualidades físicas, lhes estará fazendo concorrência com melhores serviços e garantia de satisfação. E, em caso de dor de cabeça, sempre há uma profissional competente na reserva. E elas não se esqueçam que há um dito popular que diz que a mulher mais cara do mundo chama-se esposa.
Normalmente quem paga uma grana preta por mulher jovem é velho com dinheiro. Claro, pois o michê da moça é salário de um ano de trabalho de muita gente honesta, pra comer a Ana Claudia tem que ter bastante, muita, grana. Se for jovem, não precisa pagar, tem um monte de Anas Claudias disfarçadas dando de graça para ver se levam o bobo ao altar, ou ao cartório ou, preferencialmente, para casa até caracterizar a união estável. Então ela recomenda a quem quiser seguir seu caminho que se valorize, não aceitando presentinhos, qualquer oferenda tem que ser grande, assim como um mensalão, ou percentagem malufiana, lembrancinha é coisa de esposa de pobre.
Não deve permitir que a chamem de puta, tem que ser glamourosa, além disso, recomenda jamais beber cerveja porque, segundo ela, não é bebida de vencedores (dizem que os torcedores do Flamengo mais os do Corinthians consomem mais da metade de toda a cerveja produzida no Brasil), beber sempre espumante. E eu agrego, champanhe francês.
Não tenho idéia do que seja a monografia da Ana Claudia em Business Law, que costumava atender pelo codinome Bárbara, mas eu proponho um tema: Aspectos legais e práticos para administração de puteiros na cidade de Belo Horizonte; dicas e macetes. Vai ter muita gente querendo sair da informalidade e o trabalho vai ser muito consultado.
Outra sugestão interessante é ela dar uma aula prática ao fim da palestra para um dos presentes, que poderia ser escolhido por sorteio ou, o que acho mais justo, pelo diretor presidente da empresa patrocinadora. Já sei: ela faz exatamente isso, daí o sucesso de suas apresentações.
Fico com uma inquietante pergunta: quanto será que ela cobra para uma palestra em Floripa?
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