Deprecated: mysql_connect(): The mysql extension is deprecated and will be removed in the future: use mysqli or PDO instead in /home/storage/3/0e/5d/campogrande1/public_html/old/ga-admin/includes/conexao.php on line 18
Colunistas | Campo Grande Net

Warning: Creating default object from empty value in /home/storage/3/0e/5d/campogrande1/public_html/old/template/head.inc.php on line 123
Banner-CGNet-Servsal

Warning: Creating default object from empty value in /home/storage/3/0e/5d/campogrande1/public_html/old/template/head.inc.php on line 139
AACC_ARRAIÁ-AACC_BANNER_510-x-95

Colunas


Segurança no Condomínio
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 16-11-2012

 


Trata-se de um daqueles condomínios enormes, tão grande que pode ser considerado um bairro fechado, uma fortaleza medieval intramuros do século XXI, mais de sete centos de residências unifamiliares, coisa de gente fina, bem educada, grana na Suíça, santas pessoas que cuidam da moral familiar e vivem livres das vulgaridades modernas.

A fortaleza é uma ilha de luxo no mar dos desalentos onde a procela da miséria sopra ventos constantes, mar de seres cobiçosos a imaginar que podem socializar a riqueza dos sitiados por meios criativos, assaltos sub-reptícios ao patrimônio abastado na calada da noite, na sutileza do disfarce. Como cantava o Chico Buarque, o quintal do condomínio fica lá onde toda maçã crescia. É mesmo, em casa de pobre, pobre de fato, daqueles que nem sabem usar privada, não viceja árvore de fruta, só erva daninha, porque parece que Deus não quer. Não tenho outra explicação, só pode ser castigo divino.

Nesse ambiente altamente humano, caracterizado pelos pecados do luxo e da cobiça, em que a periferia olha para o espaço interno como vereador olha para o congresso nacional, tramam-se maneiras de conquistar, mesmo que em pequenas porções, a propriedade alheia em tempo integral. Tanto pelos de dentro como pelos de fora. E não há bem que sempre dure, pois de alguma forma a segurança do presídio um dia falha. O muro cai.

Ah, falei em presídio. É mesmo, altos muros com hélices de arame farpado e dispositivos de alarme com fios eletrificados impedem tanto o ingresso de miseráveis, quanto a fuga dos abastados. É como penitenciária sueca, todo o conforto, mas sem acesso ao mundo exterior. Há duas entradas para esse pequeno pedaço de paraíso: uma exclusiva para residentes que devem se identificar por meio de um cartão com chip, outra para visitantes e serviçais que necessitam da permissão formal de algum morador. Nem Bangu II é tão eficaz. Para prevenir ou identificar alguma invasão há uma polícia interna que circula pelas ruas do condomínio com regularidade observando tudo. Sendo sempre o mesmo pessoal está acostumada às rotinas dos residentes e aborda veículos ou bate à porta de casas quando alguma coisa está fora de padrão. Além disso, há câmeras de vídeo monitorando o trânsito interno e as portarias. É um bairro seguro, mas a segurança tem falhado. Nem todos os lotes estão ocupados e, porque há várias casas em construção, as entradas e saídas dos operários não podem ser muito complicadas. Alguns dos proprietários das obras reclamaram que materiais caros estavam desaparecendo misteriosamente de deus estaleiros. Primeira suspeita: os próprios obreiros. Enquanto se aumentava a vigilância sobre pedreiros e serventes o tempo passou mas os furtos permaneceram.

Quanto maior o condomínio, maior o tamanho da encrenca. Menores inabilitados fogem da polícia entrando na área, onde não podem ser perseguidos por ser propriedade particular. Claro que isso incomoda os pais dos menores, ainda menores, que pilotam bicicletas, porquanto correm risco de vida diante desses precoces Fitipaldis. Estabelece-se a briga nas assembleias com cada um defendendo o que é seu.

- “Teu filho é um bandido armado com um automóvel!”

- “É que o teu ainda não tem tamanho pra dirigir, espera um pouco e vais ver que é a mesma coisa!”

O jeito é estabelecer multas internas para infratores e um código de trânsito exclusivo para o condomínio, com detestáveis quebra-molas e radares com equipamentos fotográficos que registram as velocidades dos automóveis. Brincam de chicotinho queimado, pois a localização dos radares muda constantemente sem aviso prévio.

Não se fazem disputas apenas pelo tráfego de veículos, o uso das quadras de tênis também é motivo de grandes confrontos. Confrontos que não são espetaculares partidas desse esporte requintado, pois grande parte dos atletas é composta por maiores de cinquenta anos. Os jogos são difíceis, a velharada manca, reclama, xinga a raquete, a bola, a rede, o adversário. Acima de tudo, dizem impropérios para si próprios.

- “Eu sou um filho da puta, corno, viado!”

Perda de tempo, todos já sabem mesmo. E assistir é muito penoso, não há quem suporte ver tantos erros, tantas blasfêmias, tantos gemidos (abro um parênteses para os deliciosos gemidos da Sharapova).  As grandes disputas às quais me refiro são pela primazia de uso das quadras. Todos querem jogar no mesmo horário, principalmente nos finais de semana. Com o intuito de reduzir o bate-boca em qualquer instante, a assembleia do condomínio decidiu que visitantes não jogam. Não resolve, mas diminui a demanda.

Da mesma forma que para o tênis, toda mudança de regulamento que a administração pretende implantar tem que ser referendada pela assembleia, tudo isso demora a ser tramitado e gera, como é de se esperar, algum atrito por parte de residentes resistentes.

Na investigação sobre o desaparecimento dos materiais de construção constatou-se que o veículo que faz a ronda noturna costumava sair do condomínio em ermas horas sem qualquer justificativa. Tudo estava gravado nos arquivos de imagens. Um grupo de especialistas fora contratado para fazer varredura de todos os registros retroativos a seis meses. A conclusão foi que a firma responsável pela segurança estava negligenciando muitas coisas. Diante disso o síndico chamou o conselho administrativo, composto por três membros, e decidiu que mudaria de empresa. Prepararam, com tal finalidade, uma correspondência para os condôminos justificando a mudança e convocando uma assembleia para respaldar ou rejeitar a proposição.

A boca era boa, quase vinte pessoas trabalhavam ali e geravam razoável renda para a administradora do pessoal, que emitiu uma carta ameaçando ações cíveis com cópia para todo o condomínio. Em paralelo, seus servidores foram informados, por parte da empresa, de alguns segredos comprometedores que imediatamente se distribuíram pela comunidade. Nenhuma notícia se propaga mais rápido do que um segredo. O objetivo era criar desconfiança na troca de empresa.

A assembleia foi tumultuada, embora a grande maioria estivesse a favor da mudança, e o Dr. Mazzuco estava indignado, bradava que havia interesses escusos naquela proposta.

- “O senhor pode provar o que diz?”

- “Não posso, mas é evidente.”

- “Alguém lhe deu alguma informação privilegiada?”

- “Não tenho informação privilegiada, mas posso emitir a opinião de minha mulher que teme ficar sozinha em casa quando tenho emergências a atender.”

Quando o ortopedista disse isso a assembleia se calou. Havia aquele silêncio espontâneo gerado pela curiosidade para saber de alguma intriga que pudesse estar escondida.

- “Eu não acho que mudar de empresa vá melhorar nossa segurança, sempre vai haver falhas, mas a Brigitte me diz que as rondas fazem com que ela se sinta segura. Eu tenho medo que isso mude pra pior, porque os atuais vigilantes são muito bons, segundo ela. Sempre perguntam se precisa de alguma coisa e são confiáveis.”

Em poucas palavras fez-se a dúvida, a plateia, conversando entre si, concordava com o argumento, o que levou o grupo administrador a se pronunciar. Falou o presidente do conselho.

- “Doutor Mazzuco, já que o senhor insiste, vou ter que lhe falar dos procedimentos que adotamos antes de sugerirmos esta troca. Analisamos seis meses de vídeos, principalmente os noturnos, e creio que posso explicar o sentimento de sua esposa que, de certa forma, é justo.”

O médico abriu um sorriso triunfal, como quem fala: “eu não disse?”

- “Uma das coisas que constatamos é que há dois vigilantes que visitam sua casa, sempre que o senhor sai de noite. E eles costumam permanecer lá por algum tempo, sempre mais de meia hora. Talvez seja essa a razão por que sua esposa tenha tanto receio da mudança, só não sabemos se vai sentir falta dos vigilantes ou medo de que eles contem pra alguém.”


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


    Compartilhe


Outras Colunas


>> Carteira Assinada

>> Pedal Dengoso

>> Orgia noTemplo

>> A Queda

>> Dois Tarados Pedalando

>> Fé na Ciência

>> Só me faltava isso.

>> A Serviço dos Ianques

>> Escala de Tombos

>> Mad Max

>> Vestido de Noiva

>> Lista para 2013

>> Natal do fim do mundo - 2012

>> Vítimas de Newtown

>> A Amásia Lobista

>> Julgamento do Bruno

>> Corrida Matinal

>> Aos que pensam que Cuba é ruim

>> Entregando Pizzas

>> Primeiro Michê

>> Aumentando a Frequência

>> Carango Baratinho

>> Bota a Camisinha

>> A Morte do Erotismo

>> Ata de Reunião

>> Vaso Entupido

>> Mais cotas.

>> Carioca na Campanha

>> Estatísticas de Orgasmos

>> Doutor do Boi de Mamão

>> Encontro na Varanda

>> CPI dos Holofotes

>> A Tiazinha

>> Toc-toc

>> Negociando no Congresso

>> A Cunhada do Wronsky

>> Ah, Espelho Meu...

>> Mamãe vai às compras

>> Meio Século de Espera

>> Matei um Monte

>> Malandro é Malandro

>> O Zelador

>> Hora de Pendurar as Chuteiras

>> Ossos do Ofício

>> Ambulância

>> Bloco de Sujas

>> Wando

>> Noites de Verão

>> Censura às Idéias

>> Vício

>> Recordista de Abates

>> Previsões de Carquejamus para 2012

>> Ressaca da Despedida de Solteiro

>> Natal 2011

>> Despedida de Solteiro

>> Festinha Adolescente

>> Cidadania italiana postergada

>> Lei Seca

>> Cidadania italiana

>> Palestra de Prostituta

>> A Prova do ENEM

>> Prorrogação

>> Inspeção sanitária

>> Porta-voz divino

>> Automóveis

>> Bolero

>> O Namoro de Dona Zilda

>> Chutando fora

>> Arquiteto Afeminado


Calendário

«Maio - 2024 »
DSTQQSS
   1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031 

banner-Ópitica_do_Divino



O portal da Cidade de Campo Grande. Informações sobre os acontecimentos da Capital de Mato Grosso do Sul; cultura, lazer, gastronomia, vida noturna, turismo e comércio de Campo Grande.