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Colunas


Natal do fim do mundo - 2012
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 23-12-2012


Estou escrevendo especialmente para quem já é adulto, para quem presente de natal significa objeto e complemento: dar alguma coisa para alguém. Há muitos adolescentes entre meus leitores, muitos até com mais de trinta anos de idade, não os considero adultos porquanto ainda se comportam como crianças, deixando estes pequenos detalhes incômodos para seus pais, tios e avós. Espertamente.



A maturidade familiar exige alguns serviços que são implícitos e parece que aumentam com o passar dos anos. Essas pequenas tarefas crescem com a idade e trazem enorme responsabilidade adquirida, uma espécie de doença que nos atinge a todos, mais cedo ou mais tarde.

O natal começa em agosto para quem vende presentes, ou ainda antes para os chineses que fabricam as bugigangas. Efetivamente já é uma realidade em setembro quando se pretende visitar parentes longínquos. Vamos de avião ou de carro? Se o filho, ou pai, mora em outro país é avião mesmo, mas tem que reservar passagens com antecedência ou periga comemorar pelo Skype.

À medida que a data natalina se avizinha as coisas começam a ganhar velocidade, os eventos tendem ao caos, o planejamento sai dos trilhos: os aeroviários entram em greve; os aeroportos da Europa estão interditados por causa de forte nevasca, muitos voos cancelados. Quando estas notícias vão para os jornais viajantes e parentes fazem como aviões em filme de guerra: entram em parafuso.

Para os comuns tem aquela espera da graninha do décimo terceiro para comprar os presentes, mas no dia planejado a turma do dominó, o pessoal da academia, a galera do chope, os amigos da vela, os do trabalho, a secretária que nunca deu mole, algum desses vai lhe chamar para uma confraternização. E vem o dilema, vou às compras ou conto alguma historinha para a patroa?

A tentação é grande, entretanto, como em todos os anos, tem mesmo é que ir às compras. Experimente se esquecer de alguém. O esquecido pode não ligar, mas a sogra vai encher os ouvidos da sua mulher o ano inteiro. Trate de arranjar outra data, outra hora de compras. E não deixe de fazer uma lista junto com sua metade.

Se já escolheu os presentes, comprar é fácil, difícil é dar alguma coisa que o agraciado não jogue no lixo em poucos dias. Vou dar uma dica, se for homem dê cuecas, se for mulher calcinhas. Nunca terão que mostrar que estão usando, a menos que ele seja exibicionista ou gay. Se for ela o exibicionista então aproveite a oferta, desde que sua cunhada (costuma ser um fetiche masculino) não seja uma baranga velha, contudo se você tiver mais de vinte anos que ela, trace a baranga. Se ela usar vassouras como transporte, esqueça, alguém pode descobrir.

Na véspera da ceia toca o telefone. E toca muito. Dentre as mensagens de feliz natal e ofertas de crédito fácil e caro, está o filho dizendo que chegou a Nova Iorque, mas sem as malas, o Zeca avisa que vem de surpresa e você lhe deve mil favores. Apela à família:

- “Tenho que correr ao Shopping pra comprar um regalo pro Zeca. Me deem uma ideia aí.”

Ninguém tem ideia alguma, alguém fala de dar uma garrafa de uísque.

- “Boa, ele sempre foi um tremendo beberrão.”

As mulheres refazem a conta e descobrem que a comida está pouca, já os homens acham que é necessário comprar mais uma caixa de vinho português, muito mais cerveja e umas duas garrafas de uísque, pois:

- “O Zeca bebe pra caralho.”

Começa a apreensão com o trânsito, com os acidentes rodoviários. Incrível que é exatamente nessas datas de reunião familiar que mais pessoas morrem nas estradas. Você liga a televisão e as notícias tratam de confusão no comércio e mostram imagens de carros destroçados, pessoas desmembradas. Horrível. Papai Noel na casa de Belzebu.

Horrível mesmo é para perus e frangos. Morrem na véspera e nem recebem extrema-unção, exceto se quem mata for muçulmano. Com o ritual de virar a ave para Meca é muito menos cruel, não é?

Os parentes vão chegando e ocupando a casa, colchão no chão, na varanda, até uma barraca pode ser vista no gramado.

Você está louco para dar uma saída, tem a festinha especial dos fornecedores na lancha do proprietário da principal empresa supridora, um plantel especial de coelhinhas foi especialmente contratado.

A turma do escritório também tem seu esquema e os organizadores convidaram participantes selecionadas para um encontro no apartamento do chefe do pessoal. Ele sabe quem escolher e a comemoração vai ser uma orgia cristã, natalina. Quem ama dá...

Quando pretende sair “para comprar o presente do Zeca”, tem mais uma encomenda, haviam se esquecido da tia Maricota, tem que comprar uma camisola pra velhinha. É um dilema, comprar a camisola ou apanhar da família e comparecer na festinha do escritório? A Gertrudes, aquela secretária de Anitápolis, loura de olhos azuis, que nunca deu mole, topou ir. Você pensa nas consequências e vai atrás da camisola. Só vai ficar frustrado, muito frustrado, quando o Osvaldo lhe contar que ninguém ficou com a Gertrudes, mas que ela não parava de perguntar por você. Azar, todo ano você falta mesmo.

A família já está toda reunida para passar a noite do galo e o dia de natal. O banheiro está uma pocilga. Já entupiu três vezes e é sua a tarefa de resolver o problema.

O álcool começa a fazer efeito, inicialmente todos cantam, as músicas passam do popular para o chulo, depois desafios, um provoca o outro, as mulheres fazem perguntas indecentes aos maridos alheios.

A porra da privada entupiu de novo. Você fica puto da cara quando descobre que o sobrinho deixou cair uma cueca no vaso e, enojado, tentou a solução trivial, acionou a descarga. Dá um esporro alcoolizado no moleque e a mãe do pivete vem tomar satisfações.

- “Não admito que fales assim com meu filho.”

- “Eu só não falo assim se tu puseres a mão na merda pra tirar a porra da cueca do guri da patente.”

- “Quem oferece a casa tem que cuidar de seu funcionamento. Foi um acidente, e só eu posso dar esporro no meu filho, entendeste?”

- “No filho da puta? Sim, entendi.”

Briga de irmãos é pior do que disputa de harém de leões. Você vai bater boca à toa, perder o embate e depois se desculpar.

O Zeca chega e você, todo contente, oferece um uísque daquele especial que sempre soube que ele gosta.

- “Não posso mais beber, estou em tratamento contra o alcoolismo.”

A nêga véia faz uma cara de desespero. E agora?

O peru passou do ponto, está um cheiro de queimado danado, todos querem achar um culpado e é você.

- “Não te pedi pra dizeres quando estivesse marcando uma hora e vinte?”

- “Misquici, com tanta coisa pra fazer, passou batido.”

- “Desde quando beber e bater boca com a irmã é coisa pra fazer?”

De repente o clima muda, a expressão fraternal torna à família e os crentes e tementes a Deus se voltam às orações e cânticos natalinos. Quem não crê tem que entrar no clima, faz parte da festa. Nem crente, nem temente, gosto do rito. Gosto da liturgia que nos agrega, não considero que seja divino, mas funciona. Nós humanos precisamos desses ritos comemorativos, todos os povos cuja história é longa os têm.

Sentamos à mesa, que é a segunda melhor parte, e afogamos nossas virtudes e defeitos em colossais pratos de sabores misturados sem critério algum. Coisa de macho de verdade, os aviadados, afetados pelo poder econômico, ouvem opiniões de gourmets que aconselham sobre sabores que não se combinam. Homem que é homem curte sua barriguinha, gosta é de prato cheio, boa bebida e mulheres devaneios. Devaneios, sim. Sonham com boazudas da TV, do cinema, mas só comem comida caseira. Dizem que se comem fora vai ser sobra de alguém. Já os ricos pagam pelas mulheres lindas sem constrangimento.

Comida na pança acalma, mata as diferenças. É quando a família volta a ser unida, fraterna, solidária, quase perfeita. É natal.

O natal é aquela utopia da fraternidade entre todos, sem diferenças, sem ressentimentos. A festa não será perfeita, faltarão coisas, algum sentimento permanecerá amargando a boca e a alma, mas a tentativa é válida e tem enormes efeitos benéficos e duradores. É importante dar uma trégua, dormir um sonho de paz.

É aí que é chegado o momento mágico, contudo quase nunca nos apercebemos na hora, só muito tempo depois. Observe o passado, lembre como sempre foi. Transporte para hoje. Curta o olhar terno de seus velhos, a aguçada curiosidade das crianças, os abraços apertados dos amigos. Se for de fé, reze, reze por mim, quem sabe eu tomo jeito? Se não é cristão, curta também, o simbolismo de tal evento é maior do que a religiosidade que o criou. Se for de fé não cristã, reze também, o aniversariante deixou uma mensagem ímpar, serve para todos e todas as religiões.

Aproveite para se lembrar daqueles que já se foram e que lhe faziam tão bem nas suas primeiras lembranças natalinas ou de outras festas que lhe sejam semelhantes. Chore a dor da saudade, é quando vai perceber que aquele momento é mágico, vai descobrir o quanto era feliz ao saber que era tão bom. Como hoje vai ser no futuro.

Acima de tudo, ao seu modo, passe o natal feliz. Não pense que ser feliz é estar excitado, drogado, bêbado de cair. Porque felicidade é isso tudo junto, com entes queridos à volta, desarmado.

Mas um pouquinho bêbado pode, afinal ninguém é de ferro.

Tenha um natal feliz, o primeiro depois do último fim do mundo que não aconteceu.


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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