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Colunas


Ambulância
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 01-03-2012

 


A vida de aposentado me traz alguns confortos e privilégios, entre eles a possibilidade de fazer minhas caminhadas na hora que desejar, já não tenho grandes compromissos regidos pelas batutas dos relógios. E gosto do fim da tarde para um passeio a pé ou de bicicleta até o Clube Náutico Riachuelo e dar uma remada, de leve. O incômodo é o barulho, o perigoso é o tráfego pesado desse horário. Vida de ciclista em Floripa é arriscada como uma eco aventura.

Há que se reconhecer que já foi pior, mas a cidade está cheia de marcos mostrando acidentes fatais envolvendo bêbados e atletas dos pedais. Há um potencial conflito nos horários de pico das duas atividades, os ciclistas saem de madrugada para aproveitar o baixo fluxo de veículos, justo a hora que os bebuns profissionais e amadores voltam da balada. Podem verificar que a maior parte dos postes da Beira Mar foi derrubada nesse horário pelos ébrios condutores. E eles têm muita sorte, graças a cintos de segurança, air-bags e novas concepções de projeto, saem praticamente ilesos de porradas tão violentas, que os carros nem são rebocados para o ferro-velho, mas recolhidos com vassoura e pazinha. Os nossos especialistas em segurança viária colocaram defensas metálicas (para quem não tem o português como língua principal, guard-rail) com o objetivo de proteger os bandidos de acertarem os postes, mas não em defender ciclistas e pedestres. Explico o motivo de fazer tal acusação, houve um jogador de futebol que se projetou ao mar na curva dos bombeiros e veio a morrer no acidente, então encheram de defensas ali, onde o tráfego de pedestres é mínimo. Onde é máximo não existem.

Há uma ciclo-faixa pintada de vermelho ao longo da Rua Bocaiúva, mas é impossível alguém pensar em pedalar por ali, está sempre cheia de carros estacionados que obrigam os ciclistas a trafegarem pelo meio da rua. A solução é dividir o passeio com os pedestres, o que pode resultar em discussões, posto que os andarilhos não gostam de bicicletas e as calçadas são muito estreitas.

Os pedestres, por sua vez, são desalojados de seu direito de caminhar na área a eles destinada por motoristas que estacionam em vagas pintadas por proprietários de lojas, bares, restaurantes. Em alguns casos a edificação fica afastada mais alguns poucos metros que o alinhamento de muro, espaço que não cabe um carro, e eles consideram que ali exista uma vaga. Onde mal daria para estacionar um Smart, encontra-se uma picape às vezes até com o rabo para fora do meio-fio. Aí cria-se um festival de sons exóticos: buzinas, gritos, ofensas, pois os pedestres disputam espaço com veículos em movimento.

Outro risco é o da travessia nas faixas de pedestre. Nossos condutores locais estão aprendendo a respeitar a preferência do caminhante, e em certas regiões da cidade pode-se pisar na faixa e atravessar sem sequer olhar, porque os motoristas vão parar. O problema é que tem sempre um paulista, ou carioca, passeando por aqui e eles não querem saber de nossos costumes.

Agora que nossa adrenalina já está acima do normal, imagino que os batimentos cardíacos do leitor estejam perto de noventa, só de pensar nessa epopeia urbana em que todos somos protagonistas. Vamos falar dos motoqueiros, acelerar esse compasso de batimentos.

Essa praga de loucos está cada vez pior e é necessário que se faça algum tipo de repressão ao uso do espaço de segurança que se deixa entre veículos que trafegam em faixas paralelas. Eles são abusados, viajam ao dobro da velocidade do fluxo e apertam uma buzina ridícula que nem sempre é ouvida, principalmente pelos idiotas do carro tunado, com milhares de Watts de potência roncando dentro e fora do veículo. É outra praga que incomoda toda a vizinhança. Claro que esses candidatos a surdos não conseguem ouvir a buzinas das motos e podem não perceber o cometa que tenta cometer suicídio.

Eu acho que deveríamos ser livres para derrubar esses loucos treinados no globo da morte, que chutam nossos espelhos e acham que têm razão. Seria divertido. Pensando bem, não seria, mas saciaria minha vontade de vingança. Estou-me dando conta que estou precisando visitar o meu psiquiatra...

Há outra classe de motoqueiros, que é a dos endinheirados, que possuem grandes e potentes máquinas que me acordam de madrugada com o uivo dos seus motores. Arrancam em uma roda e só aterrissam a dianteira quando se aproximam do próximo sinal, se este tiver radar. Esses imbecis da adrenalina supersônica gostam de documentar suas façanhas, teve até um que filmou suas prisão pela Polícia Rodoviária, quando trafegou perto dos 300 km/h na BR-101 na contramão. Ele tentava se evadir “dos home” e foi alcançado numa via lateral. Sua única preocupação, quando o polícia lhe agarrava:

- “Não arranha minha moto!”

Quem mora em Palhoça e trabalha no centro de Floripa desfruta de uma hora e meia na vinda, e duas horas na volta, de alegre e desorganizado engarrafamento onde o respeito à fila, àquele que chegou antes, não existe. A cada oportunidade possível contorna-se um canteiro, usa-se o acostamento, qualquer artifício para burlar os outros motoristas. O pensamento deles é gersiano:

- “É tudo mané, nem sabem dirigir, olha como eu vou mais rápido.”

Essa é a principal razão da motocicleta ser tão popular, os tempos de traslado no engarrafamento são reduzidos a menos da metade.

E nesse mar de carros parados largando fumaça trafegam as ambulâncias que vão resgatar os motoqueiros da hora. Numa ultrapassagem mal avaliada o cara toca com o guidão num espelho, se desequilibra com a guinada, e se espatifa. Tá lá um corpo estendido no chão. O que se considera caos ainda não o é, pois o fluxo fica pior, além da lentidão natural, adicione-se a curiosidade: cada motorista se reserva o direito de gastar o mínimo de meio minuto para avaliar o acidente. Agora temos um motoqueiro duplamente fodido, além de quebrado, a ambulância vai demorar.

Falando em ambulância, trabalhar com elas deve ser irado. Os caras avançam sinais na maior cara de pau, tocam o pé na tábua, tudo para poder tentar salvar uma vida ou amenizar uma dor. Mas o paciente não pode ser cardíaco, caso contrário morre de susto. Talvez não, se ele estiver dopado e estirado na padiola sem ver as barbaridades que comete o Schumacher hospitalar. E eles costumam ser um time de três: piloto, navegador (eu acho que devem treinar em rally) e o médico, ou paramédico. O interessante é que esses caras são bons mesmo, pois até que batem pouco, dadas as atrocidades que eles e os outros cometem. Uma batida na velocidade do atendimento é complicada, pobre do paciente, sai de casa com um problema para ser tratado com urgência, vai chegar ao hospital com dois ou mais. Ou ser desviado para o IML.

Os hospitais da ilha recebem pacientes de todo o estado, mas principalmente das pequenas cidades circunvizinhas, que não possuem hospitais de porte. Certa ocasião li que é mais fácil e mais barato para o prefeito de Biguaçu mandar os seus eleitores numa ambulância para Floripa do que gastar sua verba do SUS. O paciente fica satisfeito por ter sido prontamente encaminhado a um hospital grande e as despesas são pagas pelo município vizinho. Então, durante o dia, principalmente pela manhã, chegam várias viaturas com cruzes vermelhas nas portas trazendo infelizes. O curioso é o que ocorre no retorno. Se é momento de pouco tráfego, eles voltam comportados, contudo parece que sempre há alguma emergência na hora do rush. Já notei que quando eu caminho na Beira Mar perto das seis e meia as ambulâncias voltam para seus municípios de sirene ligada. Qual será o motivo da pressa? Levar algum paciente de volta para ser tratado na enfermaria da prefeitura, porque o hospital de Floripa não tem competência? Não, enfermaria não resolve nada e Biguaçu não tem hospital. Buscar outro paciente? Se for urgente, mesmo de sirene ligada, vai chegar tarde, melhor botar no carro do prefeito e trazer.

Só me resta a explicação óbvia que o leitor já havia percebido, a equipe da ambulância está usando o direito de trafegar emulando situação de emergência para chegar mais cedo em casa. E qual seria o motivo de tanta pressa que justifique burlar a lei, desacreditar o uso da sirene? Tomara que um desses pilotos de carro movido a berro me leia, porque deve ser por ser corno e voyeur, tenta chegar em casa a tempo de assistir ao vivo a novela das seis, quando o Ricardão visita sua mulher. Ou pegar no flagra, coisa de corno passional.

 Nem que o piloto estivesse com uma tremenda diarreia isso se justificaria, quem estiver assim que encoste o carro e procure um banheiro. É a mesma coisa que o motorista furão de fila, é desrespeito ao cidadão comum.

Temos que acabar com isso.

Vai-me dizer que é difícil?

Se o inimigo é mais forte, una-se a ele. Se a lei do Gerson vale mais do que as escritas, então, como faço para comprar uma ambulância?


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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