Data: 20-10-2011
Semana passada li a crônica de Cinthia Moralles, que fazia seu debut no campogrande.net. Não a conheço pessoalmente, mas depreendo que seja uma dedicada mãe, dado que sua apresentação iconográfica foi uma fotografia com duas belas crianças e, principalmente, porque trata do assunto maternidade. Tem até um blog sobre isso.
Todo conhecimento científico decorre da curiosidade humana, para que haja respostas é preciso que antes haja perguntas e, com efeito, inteligente é quem sabe fazer as questões certas. Cinthia fez várias que reproduzo e comento adiante.
Alguns mistérios sobre os filhos que eu gostaria imensamente de desvendar...
1- Por que, mesmo estando caindo de sono, eles simplesmente não fecham os olhos e dormem? O motivo da resistência que a maioria das crianças tem ao sono é algo que eu pretendo perguntar para Deus quando chegar ao céu...
A autora parece ser jovem e ter idade próxima das que têm minhas filhas, sou experimentado (avô) o suficiente para tentar responder a tão inquietante questão, ademais quando se refere a Deus. Sim, Deus, posto que já estou mais perto de atender o chamado divino, Ele já anda me convidando para me hospedar em sua mansão sideral, por causa de minha adiantada contagem de tempo, mas estou protelando a viagem. Cinthia também é formada em direito e talvez me ajude a procrastinar (advogados adoram esse verbo) o passeio quando o onipotente mudar de convite para intimação.
Ainda, diz lá no livro do Gênesis que Deus fez o homem à sua imagem, o que eu acho é que tenha sido exatamente o oposto, então, sinto-me mais encorajado a dar meu palpite, agora divino, já que Ele é parecido comigo.
Respondendo à pergunta, acho que podem ser duas opções: vingança, a pedido de avôs e avós, por terem sofrido o mesmo tipo de pirraça, ou protesto dos pequenos por terem sido gerados, e saber que estão condenados à morte. Cruel, não? Se o leitor tem fé, pergunte a Deus o motivo.
2- Como eles conseguem demorar tanto tempo para comer uma barrinha minúscula de chocolate enquanto eu levo segundos para devorar uma enorme?
Eles estão certos, os apressados é que estão errados. Chocolate e sexo devem ser degustados com vagar. Entretanto essa sabedoria infantil logo desaparece quando aprendem a jogar vídeo-game. Daí por diante nem querem comer ou, se o fazem, é sem mastigar e na frente do monitor, tal a secura pelo jogo.
3- Por que esperam a gente se deitar e se acomodar no sofá ou na cama para dizerem: "Mamãe faz um mamá pra mim?"
Quem explica isso é um famoso engenheiro da NASA que dizia que nada esteja tão ruim que não possa piorar, o Dr. Murphy. Segundo ele, todo evento provável tende a acontecer na pior ocasião possível. Se um casal quiser saber se o filho está acordado, sem ir ao quarto do infante, comece uma quente seção de namoro. Não falha, logo vem alguma voz reclamando: “mãe, eu fiz xixi na cama!”
4- Como eles conseguem ter energia e condicionamento físico para passar um dia inteiro pulando numa cama elástica e eu quase morro para fazer uma aula de jump de 40 minutos?
É simples, muito simples. É motivação. Os pequenos ainda não descobriram o sexo, motor de todas nossas necessidades, principalmente as ligadas à vaidade. Além disso, não têm autonomia para nada, sobra muito pouco de atividade realmente emocionante, então qualquer coisa que aconteça é motivo de comemoração. Já, para as mães a coisa é deveras complicada. Primeiro que elas não fazem exercícios pelo prazer de se exercitar, mas para tentar manter para sempre aquele corpinho esbelto e causar inveja nas amigas. Há exceções, mas são raras. O desporto preferido das mulheres em geral é o cross shopping, praticado em várias modalidades. Posso resumir. Imagine uma mulher a quem lhe damos um crédito de 200 euros e a largamos na Galeria Lafayette em Paris no horário de abertura, atrelando um hodômetro às suas pernas e sem limite de tempo. O usual é que ela passe ao menos oito horas percorrendo todas as lojas, entre em algumas delas quatro vezes, nem se lembra de ir ao banheiro (nunca vou saber como conseguem), vão almoçar um sanduíche com coca diet e, quando terminar a faina, terá percorrido mais de 60 quilômetros. Dizem que o recorde é 87. E será capaz de passar a noite em claro contando ao sonolento marido todas as maravilhas que viu e não comprou, sem dar mostras de cansaço.
Ah, quase me esqueço, ela terá aproveitado o limite do cartão de crédito para fazer as compras do natal de 2015, só para aproveitar a viagem.
5- Por que o brinquedo do irmão ou do amigo é sempre mais interessante?
É atávico, já vem no DNA paterno, porque, segundo o pai, a mãe do coleguinha é sempre mais interessante. Mas é inconfessável.
6- Por que mesmo as mães os carregando por longos 9 meses, passando por todas aquelas fases da gestação: enjôos, azia, calor, etc.; aguentando firmes e fortes as dores do parto ou do pós-operatório, ainda assim, muitos deles nascem a cara do pai?
Essa é uma daquelas mentiras que dizemos socialmente. Sempre que uma mulher encontra uma amiga e fala “como estás bem, não envelheces!”, é mentira, o que ela pensa é exatamente o contrário, mas a etiqueta manda que seja assim. Crianças nunca se parecem com ninguém. Se o leitor duvida da afirmativa, pegue fotografias de famosos quando bebês (está cheio na internet) e pergunte aos amigos se conhecem. Dizer que é parecido com o pai é para amenizar a angústia de nunca se ter certeza de quem seja o verdadeiro pai.
7- Por que toda vez que eles derramam suco e afins é sempre na roupa nova e branca, nunca na surradinha de ficar em casa?
É essa mania de botar roupa nova só em dias especiais, quando também o rango é especial; costuma ter platéia e as mães querem mostrar que o menino já é um homenzinho e o deixam comendo com as próprias mãos.
8- Por que mesmo você usando os seus melhores argumentos para defender o seu time de futebol eles sempre torcem pelo time do pai?
Futebol e automóveis definitivamente não são área em que as mulheres tenham espaço. As emissoras de televisão às vezes tentam colocar mulheres como comentaristas, mas nós trocamos de canal. Não vale a pena discutir isso, é como a morte, há que se aceitar e pronto.
9- Por que não é permitido adoecermos no lugar deles?
Já pensou no menino de quatro anos cuidando da mãe com febre? Deixa assim que está bem.
10- E, por fim, a pergunta que eu e todas as mães fazemos diariamente: por que eles crescem tão rápido e mesmo assim jamais deixam de serem nossos eternos bebês?
Essa nem Deus responde, mas eu bem que gostaria que as mães dos eternos bebês continuassem para sempre sendo as gatinhas dos tempos de namoro.
E espero que a Cinthia não fique muito zangada.
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