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Colunas


Vício
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 20-01-2012


Eu sempre pensava que vício, quando referido a algum costume que não se consegue evitar, fosse ligado à dependência química, alguma droga, mas fui ensinado pela propaganda da indústria do tabaco, que não era bem assim. É que as grandes fábricas de cigarros afirmavam que fumar não era vício, mas hábito. Mais tarde, observando que é um hábito forte, tão forte que os habitués têm extrema dificuldade de abandonar o cigarro, os médicos concluíram que milhares de substâncias tóxicas presentes no fumo causavam a dependência. Era só uma mentirinha tabagista...

E dessa porcaria eu entendo, posto que já fumei e parei muitas vezes, quase sempre quando terminava um maço. Minha maior crítica ao tabaco é que ele causa muitos danos ao corpo sem, contudo, dar baratos. Resumindo, essa droga é uma droga.

Não resolvi abordar o tema e discorrer sobre ele por vendeta contra a cadeia produtiva do tabaco, pelo contrário, já comentei isso há algum tempo, sou completamente a favor e meu principal argumento é quanto à superpopulação, se temos que reduzir a quantidade de pessoas, nada melhor do que fazer propaganda do cigarro. “Morra com elegância, fumando Felipe Morris.” É que vi uma reportagem que alertava o indivíduo comum para um novo vício descoberto recentemente, o vício digital, que pode ser subdividido em dois tipos principais: videogames e internet.

Quanto ao jogo no computador eu me considero imune, mas os especialistas dizem que esse é sempre o primeiro passo para se tornar dependente, os grandes viciados em drogas pesadas têm a ilusão de que podem controlar o seu consumo. É como os eleitores que escolhem seus candidatos com a ilusão de que eles vão seguir o discurso de campanha, ninguém consegue controlar a corja. Eu me considero imune porque acho uma droga todos os jogos eletrônicos que já experimentei, contudo a internet me agarrou logo na primeira baforada.

Dizem que tudo que é bom custa caro, é imoral, ilegal ou faz mal à saúde. E, se for muito bom mesmo, vicia. Pois a internet é a informação de alta qualidade mais barata que se pode adquirir, pode ser deliciosamente imoral, anonimamente ilegal, mas não faz mal à saúde, a menos que o internauta seja um onanista compulsivo e venha a falecer esgotado ou a use para comprar drogas pesadas. Fora isso, só faz bem. Vicia e não é droga.

Na estante que tenho diante de mim estão guardados alguns volumes de dicionários de português, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol, que faz tempo não abro. São pesados, demora para se encontrar o verbete, dá preguiça. Faço isso on-line com alguns toques no teclado e encontro vários pais dos burros. Alguns eu comprei e instalei para ser mais cômodo e apaziguar minha consciência pirata. Mas é uma barbaridade um burro ter que pagar para consultar seu pai. De qualquer modo o digital vale a pena, é mais barato e mais rápido do que o velho dicionário de papel.

Posso comprar pizza, computador, automóvel, passagem de trem na Alemanha, reservar hotel em Uganda (até lá se consegue), encomendar uma dama de companhia para uma viagem de negócios (vou ter que me explicar quando a patroa ler isso), e conversar com velhos amigos. Mais do que isso, posso fazer novos amigos.

Fazer novas amizades é uma das ferramentas mais potentes desse veiculo de comunicação, a internet consegue arrancar da solidão pessoas que não têm como encontrar semelhantes com gostos e hábitos semelhantes aos seus, mesmo os mais bizarros, principalmente os mais idosos. Velhinhos de oitenta anos, desde que aprendam a ligar a máquina e navegar com o ratinho, podem descobrir em algum lugar do país outros que também queiram discutir os motivos da derrota em 1950 para o Uruguai. Como costuma ocorrer em debates sobre futebol, o duelo de palavras será interminável com alguns recessos quando eles adormecerem diante dos monitores. Na extrema falta do que fazer, permanecerão o maior tempo possível na internet só parando para comer e ir ao banheiro, ressalvando-se os programas de televisão das tardes de domingo: Faustão, Silvio Santos e outros insuportáveis que temos que aturar quando pagamos uma visita de cortesia (eu quase escrevi de caridade). Estou elaborando uma teoria Freudiana sobre isso, é que o velhinho internauta é tão viciado que liga a televisão para, inconscientemente, espantar os visitantes e voltar para o computador.

Ainda com relação à solidão humana, a internet permite que se encontre o seu par amoroso ideal muito mais dinamicamente. Antigamente era demorado, tinha a fase da azaração, depois o namoro, onde se testavam os gostos, as preferências, as taras que se permitiam aflorar sem espantar o parceiro, até que se chegava ao relacionamento final, quando todas as coisas escondidas brotavam e, então, contratava-se o advogado para fazer o divórcio. Hoje o sujeito coloca no sítio de namoro digital o que quer, esclarece suas taras, diz se é para umazinha ou para relacionamento mais longo e espera os currículos das interessadas. E vice-versa, vice-vice ou versa-versa. Às vezes pode dar alguma surpresa desagradável, tenho um amigo que se divorciou e, estando completamente fora do mercado por mais de vinte anos, tratou de recomeçar sua vida afetiva surfando na internet. Teve como desprazer marcar um encontro com a ex-mulher, ambos usando pseudônimos. Eu dava tudo para ter presenciado a cena.

Não imagino a química do cérebro humano que cria a dependência pela teia digital, mas sei de casos graves de overdose. Meu amigo Serginho está em tratamento de desintoxicação depois que passou 28 horas ininterruptas diante do laptop. Foi resgatado pela esposa que o advertiu que se não largasse o vício ela o largaria e, desde então, está excluso sem permissão para entrar no escritório. Sua crise de abstinência o levou a aumentar o consumo de álcool e tabaco, acrescentado pelo gasto com livros. Quase diariamente é levado para uma viagem a uma livraria para que escolha o tema de sua terapia ocupacional. Se fosse jovem poderia praticar esportes ou sexo, mas tudo isso é coisa do passado. Atualmente, como previsto pelo plano terapêutico, aguarda permissão para ser reintroduzido na rede em doses pequenas diárias, quando será observado se o tratamento funcionou. Como toda abordagem para tratar viciados em drogas, o custo é alto: uma garrafa de uísque por dia e um livro a cada dois.

Já, para muitos internautas, a fixação no ciberespaço é uma fuga da chatura feminina e, quando ela percebe que o marido está viciado e impõe a lei do dá ou desce, ele agradece ao Deus dos bites, arruma a mala, coloca o notebook debaixo do braço e vai comemorar a independência matrimonial num cybercafé. Ressalte-se que não aproveitará quase nada porquanto estará ainda mais aferrado à telinha. Não vale para mulheres viciadas, posto que certamente seus maridos estejam surfando no outro computador e não incomodam.

Ainda não soube de casos de internautas que tenham vendido a casa ou o carro para sustentar o vício, porque é barato. Com cinquenta pratas por mês se consegue uma linha e acesso à rede com velocidade razoável. E o vício, como dito, é benfazejo, permite coisas que fazem bem para a alma além de se livrar da patroa por pouco ou muito tempo, por exemplo, um vascaíno tem orgasmos ao sacanear um flamenguista, que, se não tiver espírito esportivo se zanga e ofende, respondendo e chamando-o de vice-campeão. Aqui na Terra Manesensis torcedores do Avaí e do Figueirense fazem o mesmo na rede (de computadores, não interpretem mal), mas não discutem campeonatos e vice-campeonatos, longe disso, aqui é comemorar qual série disputam e a sacanagem é mandar email dizendo: “onde tem B tem Bavaí.” (só nativos entendem isso)

Outra coisa que nos prende à internet é a fofoca que pode ser feita pelo próprio detratado no Facebook. Antigamente alguém nos chegava contando que fulano ou sicrano havia comprado um carro novo, ou estreou uma nova amante, tudo ao pé do ouvido, agora não se espera que a língua alheia o faça, muito antes disso o vaidoso anuncia ao mundo nas páginas de relacionamento. Caso patológico que pode chegar a extremos, quando o indivíduo expõe sua intimidade, normalmente com imagens grotescas que são um dissabor para nossas retinas e tempero para a curiosidade.

Vou parar por aqui porque estou precisando verificar meus emails e ver o que comentaram no Facebook.

Mas se a internet vicia, viva a internet!


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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