Data: 26-10-2011
Aconteceu no Posto do Surfista.
Um novo gerente de pista havia sido contratado por recomendação do filho do seu Mario, o dono. Arno, o herdeiro, era (ainda é) surfista e tinha um conhecido do mundo das ondas que estava precisando de emprego, pois tinha se casado com uma bela guria e passara toda a adolescência baseado na praia surfando e fumando, ou permutando as palavras, sutilmente. Não tinha muitos pendores ou habilidades. Um emprego de frentista estaria de bom tamanho, mas sua capacidade de liderar o levara um pouco além.
Seu nome era Matias.
Chegou contando que era casado com uma linda garota que também gostava de pegar ondas, e que tinha um carro, embora nunca aparecesse com nenhum de seus dois brinquedos por lá.
- “Não vou trazê a minha gata aqui pra vagabundo nenhum botá o olho. E a gasolina é cara, não ando de carro à toa.”
Uma das primeiras coisas que descobriu foi a janela de inspeção do Fiat 147. Com a tampa do motor aberta forma-se uma fresta de quase um palmo junto à base do pára-brisa. Por ela o frentista que “trabalha” verificando os fluidos do motor pode inspecionar as pernas das mulheres que ocupam os assentos dianteiros.
Ocorre que no verão as moças saem da praia com seus biquínis molhados, salgados e areados e precisam se livrar deles. A solução é fácil, simplesmente colocam uma saia e, disfarçadamente, tiram a parte de baixo, a calcinha. Dessa forma sentam-se na viatura com a liberdade e a ventilação garantidas, na segurança de um quase lar sobre rodas. Mal sabem elas que olhos aguçados e penetrantes espreitam por trás do capô.
Matias contou a novidade para todos seus subordinados, que eram novatos contratados só para a temporada (o posto vendia quase nada fora dela) e chamou de inspeção sanitária. Sempre que um Fiat 147 com mulheres na frente chegava, ele dizia: - “Vou fazer uma inspeção.”
Então se aproximava e pedia solicitamente permissão para o serviço.
- “Posso examinar a água e o nível do óleo?”
- “Por favor, sim.”
Era sempre um quase orgasmo e um ou dois outros frentistas se aproximavam para a vistoria.
Seu Mario, curioso com o termo, perguntou por que ele chamava de inspeção sanitária.
- “É que eu trabalhei num ranário e tinha um cara da Vigilância Sanitária que ia lá inspecionar as rãs de vez em quando. Era a rotina.”
Seu Mario não desconfiou, entendeu que era apenas para chamar o serviço de rotina. Mas o eufemismo estava em trocar rã por perereca.
Inspeção sanitária de pererecas.
Sabiam de pelos escuros e claros, de pererecas carecas ou fartamente cabeludas, e comentavam entre si. Faziam até apostas.
- “Aposto a gorjeta que aquela loura do Fiat azul tá de calcinha preta.”
- “Topo.”
Em seguida chegavam.
- “Moça, posso ver a frente?”
- “Vou abrir pra ti.”
E ninguém podia dizer que o rapaz não tinha pedido permissão.
Na hora do pagamento, a moça diz: - “Fica com o troco.”
- “Obrigado, dona Branca, vou passar pra ele, que faz jus.”
- “Mas meu nome é Elizabete.”
- “Desculpe, dona Elizabete, foi um ato falho.”
No vestiário tinha uma placa. Hoje já inspecionamos 26, nosso recorde é 32. Seu Mario continuava sem saber o que significava, mas estava inteiramente de acordo, posto que sempre treinava a equipe para fazer um atendimento completo, mas parecia que tinham uma inexplicável predileção por carros pequenos.
Numa tarde de domingo, que na praia era o dia da semana de maior movimento, Matias saia do banheiro quando viu uma junta de três inspetores sob o capô de um 147 branco, que lhe tinha aspecto familiar, conhecido. Exibiam semblantes que mostravam claramente que estavam excitados com o que viam. Com certeza era alguma coisa que valia a pena, e o chamaram animados para ajudar a examinar a amostra.
Ficou gelado quando uma voz familiar gritou detrás do volante.
- “Benhê, saí da praia e vim conhecer o teu serviço!”
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