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Ah, Espelho Meu...
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 16-05-2012


Rita e Fabrício estavam completando 35 anos de casados. Diferentemente das datas importantes anteriores, os 25 e os 30 anos, não fariam festa, ganharam de presente dos filhos, todos casados, uma viagem à França, com estadia em hotéis luxuosos. Era aquele momento que todo casal convencional e idoso sonha ter, quando todos os filhos estão encaminhados, com bom padrão de vida, com famílias estáveis. O presente caro não seria um grande sacrifício para as “crianças”.


A semana anterior à partida foi intensa com a preparação do rol de roupas que deveriam levar, Rita havia encomendado vestidos para a noite e para o dia, pois no badalado hotel que se hospedariam em Nice poderia haver alguma atividade a rigor, providenciou um black-tie para o marido, apesar dos seus protestos, junto com um fato (minha homenagem ao país que nos ensinou o idioma) ao Chico alfaiate. Foi tanta roupa que viajariam com três malas grandes, fora a bagagem de mão. Tinham roupa de frio e calor, uma vez que estariam na Europa na meia-estação, quando tanto os voos como os hotéis são mais baratos. Por casa disso teve amigo que insinuou que a data do casamento teria sido escolhida com algum propósito econômico.

- “O Fabrício é tão sovina que decidiu se casar em maio pra viagem de lua de mel ser mais barata.”

- “Sovina coisa nenhuma, eu nunca pensei que algum dia ia conhecer a Europa, viajei de fusca, minha viagem de núpcias foi pra Santo Amaro da Imperatriz.”

Chegada a data da partida, um sábado. Um cortejo nupcial acompanhava os noivos: os três carros dos filhos e mais seis de amigos do casal para o bota-fora. Essa expressão encontra-se em desuso, mas é ótima, é mesmo do tempo do nascimento dos nubentes. Olhando-se na escala do tempo, os dois já com mais de sessenta primaveras, o cortejo estava mais para fúnebre do que nupcial, apesar da alegria.

Martinha, a filha mais velha, preparou um coquetel para os que fossem ao aeroporto, com salgadinhos, champanhe que levava numa caixa térmica com gelo e bebidas, e até um pequeno bolo de noiva, tudo feito de surpresa para o casal. E infalivelmente viriam as brincadeiras. O marido da festeira, Alisson, chegou com uma vistosa caixa para o sogro.

- “Sogrão, eu sei que nos áureos tempos você era danado de bom, mas a idade vai passando e pode ser que precise de uma ajuda.”

O coroa recebeu o presente desconfiado, não sabia o que fazer.

- “Pode abrir, é só a caixa que é grande.”

A caixa estava vazia e, colados na tampa com fita adesiva havia dois comprimidos de Viagra.

- “Só dois?”

Fabrício fazia ar de indignado.

- “Pra três semanas dá e sobra, pelo que a sogra anda reclamando, é capaz de não precisar de nenhum.”

- “Eu não preciso mesmo.”

Rita entrou no embalo da brincadeira.

- “Eu digo que ele era bom nisso, mas ultimamente anda meio caído.”

- “Sogrão, vai ficar calado?”

- “Tenho duas filhas e um filho que demonstram meu passado viril.”

- “Ele foi bom mesmo, mas atualmente não tem dado conta do recado, acho que já morreu da cintura pra baixo.”

Fabrício olhou para a mulher que lhe caçoava e não teve coragem de responder. Melhor engolir a sacanagem do que estragar a viagem, haveria oportunidade de dar o troco.

A nora também tinha uma surpresinha, entregou para Rita um pacote que continha uma camisola vermelha, transparente, com uma calcinha provocante.

- “Isso aqui é melhor do que Viagra.”

Fabricio pensou, mas sem coragem de expressar o que lhe vinha à mente sorriu, o que foi percebido por seu velho amigo de infância Ricardo. Este se aproximou e perguntou baixinho ao pé do ouvido:

- “Tas rido de que?”

- “Um hipopótamo de calcinha não é nenhum despertador de libido, é apenas um hipopótamo ridículo.”

Riram discretamente.

Fez-se um brinde à felicidade do casal, rolaram desejos de longa vida, até que Fabinho, o filho, fez uma pergunta perturbadora.

- “Essa broxura paterna é hereditária?”

Rita deu um sorriso largo.

- “Infelizmente, meu filho, acho que é.”

Então o pai interferiu em socorro à angústia do filho.

- “É lenda, Fabinho, posso te garantir.”

- “Meu filho, ainda bem que o costume de mentir não é hereditário.”

- “Há outras coisas que só são passadas pela mãe, entre elas a beleza.”

Rita aproximou-se do marido e deu-lhe um beijo terno, havia entendido que mesmo sendo alvo de tanta gozação ele ainda era capaz de uma delicadeza daquelas.

E foi assim que desapareceram pelo portão de embarque em meio a uma chuva de arroz e sob o olhar admirado dos demais passageiros e seus acompanhantes.

Pouco conversaram na viagem, cada um buscando uma posição confortável que quem é acostumado a avião sabe não existir. Saltaram em Paris para tomar o voo de conexão cansados e mal-humorados. Finalmente, depois de vinte e duas horas sem ver uma cama chegaram ao hotel.

O apartamento era espetacular, com varanda, um conjunto de poltronas e sofá, cama king size, e um banheiro enorme revestido em mármore e tendo uma parede de belíssimos espelhos. Rita estava muito cansada, mas não deixou de reparar a fineza do ambiente.

- “Meu bem, isso aqui é um conto de fadas, acho que não há lugar melhor para uma lua de mel.”

- “É mesmo, esses espelhos todos são muito bonitos e provocativos.”

- “Agora quero ver se tu vais dar conta ou se estou viúva de marido vivo.”

Fabrício permaneceu calado, não sabia se era uma brincadeira ou se ela estava falando sério com a piada. Vacilou em dar uma resposta apropriada.”

- “Amor, quem cala, consente. Agora vou fechar a porta porque quero usar o banheiro.”

Dizem por essas bandas ilhoas que uma visita é considerada íntima quando a família aceita que o visitante se sente no vaso de porta aberta. Tanto tempo juntos, ele sabia o motivo, não era por vergonha, mas pelo aroma que emanaria daquele ato que empestaria o apartamento por longo tempo. Pouco depois sai a noiva despida.

- “Não gostei desses espelhos, foi horrível me ver fazendo força na privada."

Fabrício sorriu antes de fazer sua apreciação.

- “Pra tu veres o que eu tenho que aguentar.”

Esperou um pouco e completou a frase.

- “Era isso que eu queria te responder, mas não tinha coragem.”


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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