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Colunas


Recordista de Abates
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 11-01-2012


Tenho visto coisas incríveis, algumas são boas, outras péssimas, entretanto há aquelas que me deixam na dúvida. Semana passada recebi um email contendo um anexo que contava a história de um atirador de elite do corpo de fuzileiros navais dos Estados Unidos, que se gabava de haver matado 255 pessoas.

A estatística oficial diz que ele não era tão bom assim, mas que era realmente competente, apenas 150 desgraçados foram eliminados com confirmação pelo Diabo de Ramadi. Esse nome de guerra lhe foi dado pelos adversários, os amigos provavelmente lhe teriam alguma denominação heroica.

O recordista anterior, também estadunidense, possuía uma cifra bem mais modesta de 109 execuções, todas feitas no Viet-Nam. Vejo uma característica comum dele com o novo líder do ranking norte-americano, que praticava seu tiro ao pombo no Iraque, em ambos casos os inimigos não usavam uniforme, os vietcongues e os mujahedin sempre se mesclavam aos civis, o que me faz imaginar que muitos tenham sido erradamente eliminados. E o julgamento era sumário e feito por uma única pessoa que concomitantemente era: juiz, advogado de defesa, promotor de justiça e verdugo.

Esse profissional da morte transforma em aprendiz o açougueiro de Londres que matava prostitutas, o famoso Jack Estripador, mas não foi o mais letal atirador da história. Saindo da nação americana, um finlandês, durante a guerra com a União Soviética, arrematou a seu favor um total de 475 vidas. Esse era tão bom que me faz avaliar que o soldado Chris Kyle (o herói dessa crônica) pareça apenas bonzinho.

O fato é que gostamos dessas estatísticas extremas, temos até o Livro Guiness dos Recordes, há um bando de idiotas que querem aparecer inventando coisas para constarem ali. Ouvi falar de uma mulher que haveria batido o recorde de número de cópulas sem descanso, que atendera uma fila imensa de tarados, tão exibicionistas quanto ela. Não sei o número, nem me interessa, se o leitor estiver curioso pode navegar num motor de pesquisa. Imagino o texto declamando o nome da messalina, provavelmente com uma foto, e a lista dos coadjuvantes. Metade dos leitores de sexo masculino vai pesquisar curiosa e metade das mulheres vai parar de ler aqui, porque os humanos são assim. No caso do atirador nunca saberemos os nomes dos seus parceiros (ou alvos) no feito. Alguém pode reclamar de apelação minha, de falta de analogia dessa mulher com ele, que respondo que ela também era uma feroz matadora de pintos.

O mais intrigante é o gosto que o sujeito apresenta pela profissão de matador profissional. Na reportagem da BBC Brasil de 5 de janeiro ele declara: "Adorei o que fiz. Ainda adoro. Se as circunstâncias fossem diferentes – se minha família não precisasse de mim – eu voltaria em um piscar de olhos". É como o indivíduo apaixonado pela caça, viaja longas distâncias em busca de determinada presa, sei de pessoas que fizeram safaris na África para pendurar na sala uma cabeça empalhada de zebra. Será que o soldado já teve essa ideia? Já vi isso no cinema. E ele tem vontade de comer a caça?

É um processo um tanto covarde, sem se expor ao adversário. A morte chega silenciosamente, pois a ogiva de chumbo viaja mais rápido do que o som. O felizardo, se atingido na cabeça, pode nem perceber que levou um tiro, apaga antes. Já os menos sortudos vão sentir um impacto no corpo, vem a dor e, depois, o silvo do projétil seguido do longínquo estampido da arma do atirador. Talvez beije a lona antes do barulho. É tudo muito rápido e sem o sofrimento da espera que costuma torturar o condenado. Imagine-se uma parada para um cigarrinho, três ou quatro soldados se reúnem num papo sabendo que os inimigos estão a, pelo menos, dois quilômetros de distância, tudo em relativa segurança, quando um colega cai fulminado, sangue e miolos voando. Do lado de cá um estouro de boiada de almas assustadas em busca de abrigo, juras de vingança, revolta. Do lado de lá um sorriso, alegria de eliminar um inimigo, a graça de ver uma revoada de pássaros após se atirar uma pedra e abater um.

O atleta do tiro ao Álvaro declara 255 acertos. Aí eu me pergunto, como é que esse sujeito tem essa estatística? Ele mantém um registro de cada abate? Como é que contabiliza tanta gente sem perder a conta? Indague a qualquer Casanova quantas mulheres ele executou e não vai saber. Nem mesmo contando apenas os corpos que derrubou no seu colchão no último ano, não me refiro aos homens medíocres que mantiveram um relacionamento monogâmico (uma forma de celibato), mas àqueles que se dedicam ao doce esporte do pulo de cerca, que certamente mataram menos do que isso. Ressalve-se algum supermacho capaz de cantar e montar uma potranca nova por dia, todo dia. Sei de muitos que o declaram, mas são famosos por serem mentirosos contumazes. Todo adolescente já sonhou ou sonha com isso. Quando eu era menino era costume fazer uma marquinha na funda cada vez que matávamos alguma ave (sem sacanagem aqui). Será que o soldado limava o cano da arma? Ou a coronha? É muita marca para uma espingarda só. O mesmo se aplica ao Casanova, imaginando-se uma marquinha tatuada no trabuco do amor. Efetivamente não cabe.

Com tanta dificuldade para fazer a estatística eu começo a pensar que isso é mentira.

Também é de se perguntar como é confirmada a morte. Conhecedores da natureza humana, podemos afirmar que haverá fraudes, gente reivindicando abates que não foram feitos, a menos que haja um árbitro da ONU ao lado da vítima para assinalar o tento. O atirador costuma ser acompanhado por um cúmplice observador que lhe dá informações adicionais. Ele é quem determina a distância ao alvo, a velocidade do vento e provavelmente escolhe dentre os candidatos a presunto visíveis qual o mais adequado, é a testemunha do assassinato e, muitas vezes, faz até um vídeo para comprovar o acerto. Circulou na teia o filme do recorde da distância feito por um atirador canadense no Afeganistão mostrando um tiro útil de quase 2.500 m. Para que a bala não derive muito com o vento, usa-se arma de grosso calibre, no caso do filme uma .50. É a perfeição tecnológica da morte súbita, pois se trata de uma ogiva tão grande que se acertar um braço o decepará. Se acertar no tronco o estrago é tão sério que será fatal, não importando o órgão inicialmente atingido. No tal filminho do recorde vê-se o mujahedin sendo despedaçado e uma legenda explica que são órgãos do alvo saltando do corpo atingido. E tem que ser tiro dito útil, pois o acerto só é homologado se matar.

Um tiro, dado de tão longe, acertar o objetivo é uma proeza rara. Há uma espera de alguns segundos entre o disparo e o impacto, isso significa que a bala cairá muitos metros do ponto para onde aponta a arma. Isso tem que ser calculado pelo atirador e seu observador e corrigido, tarefa que não permite uma segunda tentativa, posto que o alvo sortudo vai perceber que alguém atirou nele e se esconder. O vento também desvia a bala, poucos centímetros, mesmo se estiver fraco, o suficiente para desviar do felizardo, mas para azar deles, os caras são o diabo e acertam algumas vezes, contudo acho que raras em relação ao número de disparos.

Do lado da propaganda oficial do inimigo, o abate é tomado como bala perdida, coisa a que estamos acostumados. É fácil fazer tal declaração para manter o moral da tropa, como acontece em nossas cidades quando a polícia invade favelas. A confusão que então se estabelece possibilita acerto de contas e espingardas com miras telescópicas acertam facilmente alvos a 200 m. Portanto, acho que muita bala perdida é bala encomendada. Mas é como bruxaria, balas perdidas las hay e em dia de operação policial em favela é melhor andar de metrô.

A brutalização é um fato comum nos conflitos, não se deve esperar nada diferente. Sempre foi assim, mas os meios de comunicação nos permitem ver e sentir a barbárie de perto, estamos mais críticos do que no passado. A rigor a primeira documentação importante dessa crueldade que somos capazes de desenvolver foi feita na segunda guerra mundial. E o curioso é que a maior parte das imagens que dispomos foi feita pelos algozes. Atualmente os teóricos do morticínio discutem quem terá sido o mais eficaz, se Hitler, Stalin, Pol Pot, ou a equipe que projetou e lançou a primeira bomba atômica.

Sob o ponto de vista econômico esse tipo de morte artesanal é muito cara. Considerando os custos para treinar o assassino, levar o sujeito até o campo de batalha, alimentação, suporte psicológico, gasta-se muito e, portanto, como bom engenheiro que sou, não considero que seja um processo adequado. O que li diz que foram dez anos de trabalho, ou seja, cerca de dois abates por mês, muito pouco, esse funcionário é um incompetente. Pior, pois ele é o melhor do time.

Pesquisei e li que os gringos gastaram 770 bilhões de dólares na guerra do Iraque. Pode ser muito mais. Não sei quantos iraquianos foram abatidos, mas acho que cada um deles custou mais de um milhão de verdinhas. Somos muito mais eficientes do que os americanos do norte, se tomarmos o orçamento da previdência social e dividirmos pelo número de óbitos no nosso sistema de saúde (não me conformo com esse nome, deveria ser doença) vemos que no Brasil se mata a um custo muito menor. Então é fácil, bastava o Bush ter contratado um dos nossos ministros da saúde ou previdência e mandar pra Bagdá. E ainda acrescento, independentemente do partido político deles, que seria ótimo se não pudessem voltar.

Do ponto de vista ético as guerras são uma calamidade para a consciência, mas do ponto de vista econômico são o extermínio para a inteligência. Não valem a pena. E, voltando ao começo, não tenho dúvidas. 


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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