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Colunas


Ata de Reunião
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 30-08-2012


Aos 18 dias de agosto de 2012, no salão de festas do edifício Rinha de Galos os condôminos em reunião extraordinária, atendendo à convocação em segunda chamada, posto que nunca ninguém vem mesmo para essas chatices e os que comparecem já sabem que não dá quórum no horário certo, estavam apenas presentes os condôminos:

João Cariri, unidade 107;

Rosilda Rosacruz, unidade 202;

Maria de Compostela, unidade 109;


Ubaldo Resistente, unidade 301;

Fritz Schnapsmacher, unidade 704 e síndico;

Dolores Malagueta, unidade 503;

Hamilton Dourado, unidade 702;

Patricinha Socialite, por procuração, unidade 708;

Albertina Ganso, unidade comercial (loja).

Fui convocado para secretário, apesar de protestos de minha parte, mas o síndico disse que o atraso na taxa de condomínio do mês passado poderia ser negociado sem multa caso eu aceitasse a tarefa. Assim, assumi o cargo, que desejava que fosse anonimamente, pois podem me pegar para Cristo.

Inicialmente foi lida a pauta, conforme convocação:

Decidir as prioridades nas obras de manutenção;

Apresentação do projeto de arquitetura e eventual aprovação de modificações no edifício.

O síndico (sempre penso em sínico) ressaltou que havia colocado na convocação que os ausentes teriam que acatar a decisão colegiada e que recomendava a presença. A seguir foi colocado que a ata anterior havia sido enviada e que acreditava que todos a teriam lido, no que foi advertido pelo senhor Cariri que não é bem assim, que os moradores têm muito que fazer, principalmente os aposentados, e que ninguém tem mesmo saco de ler essas chatices. Hamilton Dourado disse que a leitura no plenário é um absurdo, que estávamos tomando o tempo dele, uma vez que ele havia lido antes e que não há saco que suporte uma reunião que tenha que ouvir leitura de ata. Ficou um nó que foi desatado pela leitura taquigráfica feita por mim, que foi comparada a uma mensagem em código Morse, ninguém entendeu coisa alguma nem teve coragem de comentar e a ata foi aprovada por falta de discussão. O senhor Dourado disse que mataria algum cretino que discordasse de qualquer assunto escrito naquele registro, pois queria sair logo para ver o jogo, no que foi aplaudido pelos demais presentes, constatando-se uma rara unanimidade no colegiado.

Antes de apresentar os projetos e propostas, para dar uma ideia de como estão as finanças, a lista dos inadimplentes foi lida pelo síndico e dona Albertina alertou que o PROCON impede que isso seja feito, mas o alemão Schnapsmacher (nosso síndico) retrucou que sendo o condomínio uma sociedade, todos têm o direito de saber qual sócio não está cumprindo com suas obrigações, sejam financeiras ou morais. Fizeram um acordo de ninguém comentar fora daquele ambiente por escrito, mas que fazer algum veneno ao pé do ouvido até que vai fazer bem, quem sabe os caloteiros se manquem.

Uma vez aclarado quais são os devedores do Condomínio Rinha de Galos, atacou-se o primeiro item da pauta e se chegou a uma divergência, constatando-se facilmente que a maioria presente preferia a reforma aumentando o número de vagas de estacionamento, e em segundo seria a manutenção, pintura externa; a reforma implicaria modificação na estrutura original do edifício e a aprovação seria mais delicada. Depois de algum bate-boca fez-se um armistício entre os presentes estabelecendo-se a paz acordando-se que iniciaremos as obras com a reforma da garagem, depois faremos a pintura externa, depois, se aprovado o projeto, a reforma da portaria.

O síndico solicitou que a assembleia definisse como seriam aportados recursos, o que suscitou nova confusão e variadas propostas divergentes entre os presentes. Dona Maria de Compostela, fervorosa católica, de celular à mão, conversava com o marido que agora reside e trabalha em São Paulo. Repetia o que ouvia no aparelho dizendo que ele teria dito que o máximo que poderiam pagar seria quinhentos pilas ao mês porque ele havia sido promovido de juiz a desembargador, por isso se mudara, mas a família não gostou de lá decidindo-se permanecer aqui, e estava passando por dificuldades financeiras, tinha acabado de comprar, e estava pagando, mais um apartamento para ele morar sozinho, uma Cherokee para fazer as viagens para trocar o óleo do casal semanalmente, tinha trocado de moto, uma vez que sua Harley Davidson já tinha um ano e mais de dez mil quilômetros. Ainda disse que não é fácil manter casas em duas cidades ao mesmo tempo, que isso custa caro e que ele (insisto que era pelo telefone, pois ela apenas o repetia papagaiatamente) advertia que modificação no prédio não é manutenção e só pode ser feita por unanimidade e ele vetava. Imediatamente os demais presentes mudaram as suas posições e passaram a defender a pintura como prioridade que, sendo manutenção, estaria a salvo do veto do poder judiciário.

Dona Rosilda Rosacruz, inocentemente e com boa vontade, buscando uma solução paliativa, sugeriu que o pobre barnabé fosse dispensado do pagamento até que sua situação financeira se acertasse, no que foi interpelada por dona Dolores Malagueta que disse, de forma apimentada, que isso não está de acordo com o princípio de equidade, no que foi prontamente apoiada por Albertina Ganso.

Percebendo que teria que entrar com valor maior do que o máximo que ela havia estabelecido como limite, dona Maria ligou para o douto maridão e pediu vênia para inseri-lo em viva voz para a assembleia, quando ele disse em claro português que nunca haviam feito merda nenhuma no prédio e agora queriam fazer tudo de uma vez. Um dos presentes levantou-se e disse que, desde que comprara o apartamento, até o mês anterior, a síndica era a própria dona Maria de Compostela, que foi incompetente. Muitas conversas paralelas surgiram e a citada levantou-se indignada dizendo que não sabe cagar (sic) dinheiro, que estava usando expressão forte à altura das barbaridades e grosserias que estava ouvindo dos presentes. Dito isso, retirou-se do recinto puta da cara, soltando fumaça negra pelos ouvidos e (acrescento de minha lavra) bosta pela boca. Seu Cariri disse que nem no Ceará um cangaceiro usaria daquelas expressões numa reunião, nem mesmo em despedida de solteiro em casa de mulher dama.

Dona Rosilda Rosacruz disse, aproveitando a coragem gerada pela ausência da personagem, que no 109 morava uma jararaca que morreu, e deu um alento ao condomínio, mas que foi substituída por uma cascavel, que aquela unidade tem que ser exorcizada.

O senhor Resistente pediu que constasse em ata que eles poderiam pagar facilmente sua parte nas obras vendendo a lancha. Deu zona no recinto. Não consegui registrar todas as declarações dos presentes que falavam excitados ao mesmo tempo, mas parece que sugeriram que ela se mudasse para lá, ou vendesse um carro, ou que fosse trabalhar numa boate porque até que a carroceria era aproveitável, achei que devia ser do carro. Na hora de passar a limpo esta ata fiquei confuso, não sabia se falavam do carro dele ou dela. Perguntei a uma moradora que me disse, de maneira despeitada, típica de quem não gosta da pessoa, que a dona pode até tentar um emprego noturno, mas já está um pouco embarangada. Então foi que entendi (como nós, homens, demoramos a perceber nas entrelinhas).

Dona Patricinha Socialite é a arquiteta que, a preços módicos, desenvolveu os anteprojetos em apreço. Arrumou uma traquitana complicada, cheia de fios e de luzinhas verdes e vermelhas, para projetar na parede da sala imagens com plantas e perspectivas. Havia duas alternativas de projeto para a portaria, uma com um tanque de um metro por quatro, que ela chamava de piscina, e outra sem o maldito reservatório. Colocadas em discussão as propostas suscitaram inumeráveis comentários. João Cariri disse que os parentes dele lá do Ceará vão gostar muito de ver a mulherada de biquíni tomando banho de sol quando vierem visita-lo, o que deixou o condômino Ubaldo Resistente zangado, reclamou que a mulher dele não estava ali para ser azarada por paraíba nenhum. A patricinha Patricinha disse que poderia colocar um vidro jateado para impedir a visão, no que foi interpelada pelo senhor Cariri que disse que a graça da banheira era ver a mulherada. Com isso a assembleia, depois de ameaças de morte entre os dois, tomou partido de retirar a piscina e preservar os bons costumes.

Após alguma discussão estabeleceu-se que a quota por unidade de final 01, mantendo-se a proporção para as demais, para as despesas de obras de manutenção será de mil e quinhentos pilas por mês, por fora da taxa de condomínio, ficando acertado que se sobrar algum no final será gasto em inolvidável inauguração. O desembargador que se lixe e faça um papagaio no banco. Dona Albertina reclamou que sendo proprietária das lojas terá que pagar mais, que ela não é culpada de ter uma área maior do que os outros, que é um absurdo, que deveria haver equidade nas taxas, todos pagando o mesmo. Acrescentou que não quer pagar reforma da portaria porque ela não usa e que já é um absurdo pagar custos de elevador e portaria. O assunto foi deixado para uma próxima assembleia, porque ninguém teve coragem de dizer o que pensava. O síndico declarou que a solenidade de inauguração é muito importante para seus planos de futuro, disse que vai fazer como o prefeito, executar pouco, fazer muita publicidade do que executar, gastar muito na obra e muito mais na festa para impressionar e garantir a reeleição. Dona Dolores disse que por ela ele já está eleito com mandato vitalício e que ninguém quer o cargo, como se constata facilmente no número de presentes à assembleia, mesmo quando está escrito que ausentes vão ter que pagar o que os presentes decidirem. Em especial em dia de eleição de síndico.

A obra da garagem ficou para depois, mas combinou-se que numa segunda-feira ou sexta, quando o Dr. Desembargador estiver por aqui, vai-se tentar um acordo. Dona Dolores perguntou por que seria numa segunda ou sexta, ao que o síndico respondeu ser consequência de ele ter a semana igual à do congresso nacional, trabalha de terça a quinta-feira, que é uma boa mamata.

Indagado sobre suas intenções com o apartamento, o seu Fritz disse que pretende reformar e vender, mas que sabe que só vale a pena depois das reformas e garantiu que não larga o osso enquanto não concluir as obras.

Seu Ubaldo disse que o morador do 505, um inquilino, comentou que vai processar o condomínio por assédio moral, quando o zelador encontrou sua filha fazendo sexo na escada e lhe chamou a atenção. Presente a reunião como ouvinte, o empregado, seu Rafael, ficou bastante indignado com o fato e, sendo homem grande e muito forte, criado na colônia, disse que com ele não tem esse papo de justiça, que ele quebra a cara do pai, da vadia e do namorado dela. O síndico pediu que não constasse em ata, mas o seu Cariri disse que é amigo do pai da moça e que vai apoiar a ação. Se não fossem as damas presentes, que se interpuseram entre os dois, alguém teria saído da assembleia de cara quebrada.

Assim terminou a reunião e foram todos para suas unidades. Eu lavrei a presente ata, mas não me meto a galo, apesar de morar no Rinha de Galos, de me identificar, afinal, o hômi é desembargador e tem tempo de sobra para me aporrinhar.

E assine quem concordar com ela.

Publique-se, intime-se, cumpra-se.

Em tempo: Depois da assembleia seu Rafael e João Cariri foram vistos bebendo cerveja na esquina, como se nunca tivessem discutido. Danou-se!


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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