Data: 31-12-2011
Eu estava quieto, tinha decidido calar meus dedos tecladistas neste final de ano, mas um tal de Henrique me provocou perguntando se o sábio Carquejamus não faria suas previsões. No ano passado eu me meti a vidente e lancei meus vaticínios contra a humanidade, acertei muitos, errei alguns, sem jamais ter tido qualquer tipo de transe, jogado búzios ou lido chávenas de chá. Nem botei cartas, para mim tudo isso é coisa de boiola. E lá vou eu de novo, profetizando no seco, quero dizer, vinho seco, para me dar coragem, pois quase que só vejo coisa ruim.
Primeiro, antes de qualquer conversa, alerto que o mundo não vai se acabar no ano que vem. Pode tocar seus projetos de vida sabendo que daqui a um ano estaremos nos preparando para outro réveillon. Se o leitor é do tipo místico e acha que as interpretações do calendário maia podem ser reais, eu proponho uma aposta, pago dez por um, quem perder entrega a quantia devida ao ganhador no primeiro dia de 2013. Se perder prometo que pago em espécie.
Feito este prognóstico favorável, vamos falar de política. Florianópolis está muito mal cuidada; fora das vias por onde passa o turista comum as faixas de pedestres estão apagadas e a sinalização de pista já não existe desde a última eleição. E tem buraco por todo lado. Pois eu garanto que tudo isso vai mudar a partir de junho, nossa cidade vai ficar linda, sem irregularidades no asfalto e com todas as faixas repintadas. Não só nossa capital catarinense, mas isso se dará em todas as cidades desse nosso país tupiniquim. É previsão que independerá do matiz político dos prefeitos em exercício, porque esses caras são profissionais e sabem muito bem o que fazem em ano de eleição. Além de maquiar a urbana cara feia, as obras ajudam o caixa da campanha. E os burros elegerão o mesmo, ou outro, facínora para a administração municipal. O nome eu não prevejo porque não sou besta.
Em agosto, setembro e começo de outubro o povo vai desligar os rádios dos carros e só vai ouvir MP3, por conta do chatíssimo horário político, que agora é mais chato ainda por causa da proibição das produções. Haverá grande torcida para que o prefeito de sua cidade seja eleito no primeiro turno, só para não ter que aturar mais um mês de campanha.
Teremos grandes batalhas entre conservadores, liberais e reformistas no plenário do congresso nacional sobre o direito dos gays, casamento entre pessoas de mesmo sexo e adoção de filhos por esses pares. Além disso, teremos mais de mil leis inúteis aprovadas e promulgadas, muitas delas já existentes com outros textos, dizendo exatamente a mesma coisa.
Vamos ganhar meia dúzia de medalhas de ouro em Londres e a imprensa ficará indignada com o mau desempenho da delegação brasileira, entretanto a nossa presidente receberá os condecorados em palácio como se tivessem vencido uma guerra. Minha bola de cristal não me permitiu ver direito, pode ser que haja mais, ou menos, um ou dois medalhistas. O ministério dos esportes vai publicar uma portaria com um planejamento para preparação de uma equipe olímpica, com o objetivo de fazer bonito nos jogos do Rio de Janeiro; rolará muita grana de forma inexplicável para ONGs e haverá inúmeras denúncias de corrupção que resultarão em nada, da mesma forma que a tal preparação de equipe olímpica.
A equipe brasileira de futebol será desclassificada na olimpíada por uma seleção africana e nossos dirigentes alegarão que muitos dos atletas de lá eram gatos, como chamam aos que têm idade falsificada. Morreremos de inveja dos argentinos que farão uma campanha muito melhor do que a nossa. Isso vai recalcar. E já vou avisando ao leitor que não sou culpado, sou só o vidente, não faço o futuro. Salvem minha pele, podem bater no Ricardo Teixeira, se quiserem.
A inflação vai recrudescer e haverá grande discussão entre o ministro do planejamento e a FGV. Para resolver o impasse e se chegar a uma cifra apaziguadora, veremos mudanças na forma de calcular. Nem é adivinhação, já aconteceu na Argentina e dizem que nós sempre repetimos o que se passa lá, macaquitos de imitação. Aliás, presidentas eles já tiveram várias, sendo a primeira honorária, quase canonizada por alguns grupos políticos fanáticos de hermanos, Santa Evita Perón, que, dizem, começou a vida política quando conheceu o general trabalhando de dançarina num cabaré.
O preço da carne bovina vai para a estratosfera e haverá protestos, porque os frigoríficos preferem vender lá fora a preços melhores do que os internos, desde que se conseguiu o visto sanitário para a Europa. O churrasco na laje vai deixar de ser o prato preferido dos morros de nossas grandes cidades e a rapaziada vai voltar a fazer feijoada. Ou caçar gatos. E vai faltar álcool, que agora tem que ser denominado etanol nos postos revendedores. De fato esta foi uma portaria de grande importância para o consumidor, nunca entendi como é que nós brasileiros pudemos passar trinta anos rodando com um combustível que nem sabíamos o nome correto.
O desfile das escolas e samba do Rio será mais pobre, porque alguns bicheiros, grandes patrocinadores dessa festa, estarão fazendo retiro espiritual em presídios de segurança máxima. Pelo menos é o que diz o Governador Sergio Cabral, contudo quem fala mais alto é o juiz, que por sua vez ouve a voz do bolso, e vai mandar para casa os que veladamente lhe derem alguma oferenda polpuda. Ah, antes que um ou mais deles se zangue comigo por generalizar, escrevo que depende do juiz, é claro. Alguns não aceitam isso, outros não aceitam só isso.
Um sorrateiro movimento de retomada do Morro do Alemão por parte da bandidagem será feito com duas mortes. Depois de muitas denúncias anônimas será constatado que o grupo assaltante nada mais é do que uma facção descontente das polícias cariocas. O sindicato dos delegados vai informar que se tratava de um pequeno grupo de bandidos fingindo ser da corporação que pretendia fazer um acerto de contas com os policiais da UPP. A população da favela vai se dividir, alegando que antigamente havia mais dinheiro circulante na economia local, que a grana do tráfico está fazendo falta. As meninas de vida fácil vão demostrar que antes tinham fregueses ali mesmo, mas que agora são obrigadas a se deslocar para Copacabana, gastando tempo e dinheiro na condução, que não está valendo a pena, que o faturamento está abaixo do ponto de equilíbrio. É que elas agora estão estudando em faculdade e aprendendo economia. Novos tempos.
O Flamengo será campeão mundial de clubes em acirrada eleição por voto direto. Em segundo lugar, com o vice-campeonato, estará o Vasco da Gama, o que será comemorado pelos rubro-negros com mensagens sacanas por email. O Corinthians ficará em terceiro e haverá protestos com ameaças de morte, por parte dos Gaviões da Fiel, aos votantes reclamando que a eleição deveria ser regionalizada com voto proporcional. Como o Rio fica longe, vão organizar pela internet um assalto ao Parque Antárctica e uma batalha campal será travada na Avenida Paulista convocada pela Mancha Verde. Um promotor de justiça vai propor o fim de jogos com público nos estádios para acabar com a violência das torcidas. Mas só depois da Copa.
O Avaí vai contratar o Messi, mas o sonho acaba em primeiro de abril.
Um parente do finado Ghadaffi, será preso pela Polícia Federal em Foz do Iguaçu e vai gerar enorme polêmica no país. Finalmente será concedido o visto permanente como asilado político quando Hugo Chaves oferecer abrigo na Venezuela. A justificativa para o ato administrativo será dada pelo ministro da justiça que dirá que não podemos perder para ele. Se não for um parente do Ghadaffi, o tal árabe poderá ser da Al Qaeda e, seja quem for, a CIA vai pedir a extradição do sujeito, desde já sabida a negação.
Em dezembro teremos novas enchentes nas grandes cidades do sudeste e o povo vai acusar os prefeitos de não fazerem nada, de não alargarem os rios; moradores reclamarão de não removerem os vizinhos cujas casas atrapalham o fluxo da água nos córregos. Veremos uma entrevista em que uma senhora de 73 anos dirá que mora ali há 42 e todo ano é a mesma coisa, que ela já teve que aterrar parte do rio para fazer um muro e evitar que sua casa caísse pela erosão da barranca, todos os anos a água chega até o teto e a prefeitura nunca lhe ajudou. E vai explicar que o terreno é uma invasão que rola na justiça desde que ela construiu o barraco.
A bem da verdade, já na primeira semana do ano isso vai acontecer.
O final do ano vai ser caracterizado por grandes engarrafamentos nas estradas, vai ter motorista que vai gastar 36 horas de São Paulo a Santos e, chegando lá não vai encontrar lugar para estacionar. Vai voltar para casa e declarar no Facebook que sua sogra foi a culpada por obrigar a família a ir à praia jogar flores para Iemanjá, mas que felizmente não incomoda mais, ela morreu na viagem por causa de um infarto. Não deu tempo de chegar a um hospital e prestar socorro à velha por causa do congestionamento.
O Adriano (aquele jogador flamenguista) vai ser envolver em mais um escândalo e vai brigar com o técnico do Curingão. Depois vai se refugiar num morro do Rio de Janeiro de onde só vai sair para a Marquês de Sapucaí.
Nas vésperas do Natal o congresso nacional, as assembleias legislativas e as câmaras municipais vão votar e aprovar aumentos de salários para eles e para os apadrinhados nomeados e alegarão que isso não custa nada para os cofres públicos, o custo já está no orçamento.
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Meus pêsames, isso não é coisa que se perca tempo lendo. Se não estiver de férias, sugiro que vá trabalhar para me sustentar, uma vez que sou aposentado. Por isso eu lhe desejo saúde e paz de espírito, assim vai poder produzir muito. E produza mesmo, pois a pátria madrasta vai comer quase a metade em impostos.
Feliz Ano Novo.
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