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Colunas


A Tiazinha
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 14-06-2012

 


Depois de ter se enroscado com uma prostituta e abandonado o casamento, Mauro passou de vida regrada a devassa. Tudo começou numa festa de despedida de solteiro em que tomou um porre cataclísmico, daqueles que derrubam o mais robusto dos homens, magnitude 6,8 na escala Richter, e se apaixonou pela stripper que lhe convidara ao palco. Largou a esposa Nara e foi morar com a messalina porto-alegrense imaginando que seria o homem mais feliz do mundo, mas isso durou pouco, só até descobrir que ela gostava mais da sua carteira do que de seu falo. E que ela dividia a cama com alguns estranhos na sua ausência.

Homens costumam ser bobos, mulheres que sabem disso oferecem quinze minutos de prazer na cama, duas vezes por semana, em troca de luxo e conforto perenes. Com Maurinho não era diferente, mas ele tinha muito amor próprio e havia sido exposto ao ridículo quando o noivo da festa, sem saber do relacionamento, contou que eventualmente traçava Dora diante de muitos amigos numa reunião no Veleiros da Ilha. Mauro pensava consigo que corno todo mundo pode ser, não há receita de como evitar, dizem que água de morro abaixo, fogo de morro acima e mulher quando quer dar ninguém segura, mas tem que ser corno macho, reagir. Então, embora a contragosto, pois a morena tinha um tufão nos quadris, como cantava o Chico Buarque, decidiu que a moçoila deixaria seu apartamento. De maneira prática avaliou que até seria mais barato, bastaria pagar o preço de mercado e, se quisesse carícias mais tentadoras, poderia oferecer uma gorjeta polpuda ou alguma joia. Também poderia variar de parceira à vontade.

Foi assim que um homem regrado e dedicado à família caiu na putaria. O douto advogado começou a perder causas, sua concentração estava se esvaindo, até mesmo se esquecia de audiências. Os colegas perceberam, inclusive aqueles que eram seus eventuais adversários em processos, mas que eram amigos fora dos tribunais e o estimavam e respeitavam, começaram a se preocupar. Como um homem tão sério, tão focado no trabalho, poderia estar passando por uma situação tão decadente? Extra oficialmente foi criado o GRDM (Grupo de Recuperação do Doutor Mauro), liderado por Marciano que se sentia culpado por ter instigado o amigo a participar da orgia que desencadeou o processo de adesão ao culto de Baco. De forma discreta e sem deixar que o objeto do movimento percebesse, ele abordou conhecidos que fizeram o mesmo com outros conhecidos. Usando do jargão dos tribunais, tudo feito em segredo de justiça, doutor Mauro não poderia perceber para que a coisa desse certo.

Foi numa feijoada de um sábado frio de inverno que fizeram a primeira reunião de trabalho com parte do grupo presente. Se no congresso nacional, com os vencimentos e jetons que os políticos ganham, nunca dá quórum, imagine-se numa associação filantrópica, mesmo que role comida boa e farta. Eram doze amigos, nada mais, nem mesmo as esposas, havia preocupação de que nada vazasse durante aquele encontro de escolha de estratégia. Haviam reservado a tarde toda para discussão e contratado seu Jorge, um experiente e famoso cozinheiro especialista em feijoadas, responsável por retumbantes sucessos na Embaixada Copalorde, nossa querida escola de samba amarelo, vermelho e branco. E para soltar a língua da rapaziada, caipirinha de saborosa cachaça de Luis Alves, uísque e cerveja à vontade.

Marciano abriu os serviços relatando os fatos cronologicamente, desde o encontro casual onde se deu o convite para participar da orgia no Doces Suspiros, até o estado atual de degradação do amigo. Sabia que teria que ser rápido, antes dos membros do GRDM se emborrachassem e a conversa degenerasse em baixarias, como sói acontecer em reuniões de homens onde abunda a bebida.

Terminada a explanação deixou a palavra aberta e Roda foi o primeiro a se manifestar.

- “Temos que fazer ele reatar com a Nara e voltar pra casa.”

Amilcar, o que era o noivo daquela festa que degradou o amigo e comeu a amante, ponderou usando de suas experiências pessoais e do que observava nos homens:

- “Pode ser, mas eu temo que isso não dê certo. Depois que o sujeito experimenta outras perseguidas não volta mais pra velha.”

O plenário se manifestou francamente a favor da opinião e buscaram outra forma de ação. Marciano, sempre ele, fez uma avaliação do caso com base na personalidade do objeto.

- “O Maurinho tem dificuldade de dizer não. Nunca vi ele negar pedido de doação, venda de rifa, essas coisas.”

Loiola, foi sarcástico:

- “Vais pedir pra ele voltar pra casa?”

- “Nada disso, o que eu proponho é que cada um de nós faça um dia de vigília. Cada um convida o Maurinho pra jantar, ir ao futebol, resolver um problema, inventar discussão de uma causa, de forma que ele não tenha tempo livre pra comer ninguém. Nem mesmo uma rapidinha.”

- “Marciano, nós vamos nos cansar.”

- “O nosso grupo tem 25 membros, se fizermos uma escala de dois por dia, atendendo as disponibilidades de cada um, ele nem vai notar e damos uma canseira no cara. Depois de duas semanas ele vai começar a sonhar com a perseguida da Nara, aí nós fazemos o encontro.”

A turma gostou e brindou à ideia. E tome caipirinha. Todos os dias dois ou três amigos se combinariam e intimariam o doutor Mauro para algum convite irrecusável, desde que não fosse para alguma casa de luz vermelha.

Não surgiu mais nenhuma nova proposta porque em meia hora os membros do grupo já haviam ultrapassado em quatro vezes o limite máximo alcoólico permitido pela Alemanha para condução.

Na semana seguinte os amigos começaram um processo de revezamento e vigilância do tipo sexólicos anônimos. Tudo funcionava perfeitamente, entretanto nosso advogado teve uma viagem a serviço a Porto Alegre, segundo ele era um jugamento. Tomou um voo cedo e só voltaria no dia seguinte. Imediatamente a confraria se reuniu tentando ver se conseguiria que alguém se encontrasse casualmente com ele na capital gaúcha, lugar de abundantes e belas mulheres, o que infelizmente foi impossível. Seguiriam com o plano original e no dia seguinte era vez de Marciano e Roda.

Haviam convocado Maurinho para um bate-papo, estavam no Veleiros na happy hour e depois comeriam uma pizza. Roda abordou discretamente:

- “Deu tudo certo no portinho?”

- “Bom demais, acho que ganhei a causa, embora ainda falte a sentença, mas o melhor foi a noitada.”

Marciano sentiu uma onda de desânimo, logo na primeira semana o paciente já escapara do tratamento.

- “O que fizeste de tão bom?”

- “Fui ver a tia Carmen.”

- “Não sabia que tens tia em Porto Alegre.”

- “Não tenho, a tia Carmen é o nome de um puteiro de luxo.”

Desesperar jamais. Com isso na mente os dois decidiram que deveriam continuar com a estratégia, reiniciando o tratamento depois da recente recaída. Mais tarde conversariam com um associado de Mauro na banca de advogados para saber quando ele teria que se ausentar novamente, descobriram que não seria tão cedo, contudo ficaram preocupados quando, duas semanas depois ele anunciava outra viagem para o sul. Sabedores que era compromisso falso reuniram-se precariamente e conspiraram com um amigo juiz que se prontificou a arranjar uma intimação de última hora para aquela data.

Já se corriam dezesseis dias de vigilância bem sucedida quando entabularam o encontro com a antiga mulher. Os mais íntimos receberiam Mauro e Nara num jantar de sexta-feira, deixariam os dois casualmente sós imaginando que a abstinência gerasse nele o desejo.

Jantavam com champanhe francês em ambiente requintado, coisa de cinema, tudo organizado por uma empresa especializada em casamentos e cerimônias com grana de quotas dos participantes do GRDM. A conversa fluía solta, o casal até trocava algumas amabilidades, a esperança dos convivas de que tudo desse certo cresceu. Eis que toca o celular de Maurinho que fez menção de se levantar, mas ficou constrangido.

- “Alô? Sim, sou eu mesmo.”

Todos faziam silêncio tentando adivinhar o outro lado do diálogo.

- “De manhã às oito e meia?”

...

- “Eu espero no aeroporto, pode contar comigo.”

...

- “Até amanhã. Outro”

Todos os olhares se voltavam para Maurinho. Marciano já pensava que a batalha estivesse sendo vencida, notava o semblante meigo de Nara que parecia dizer que o marido estava perdoado. De forma inocente perguntou:

- “Se tu quiseres esticar a noite, ficar aqui conversando, amanhã eu tenho que acordar cedo pra levar o Pedro Paulo para uma caminhada no Ribeirão da Ilha e posso pegar essa pessoa, tu não precisas levantar tão cedo.”

Maurinho pigarreou, brincou com o copo e mediu as palavras antes de responder.

- “Acho que não seria legal. É uma tia que tenho em Porto Alegre que vem passar o fim de semana comigo. Se outra pessoa for buscar ela vai ficar sentida.”

No dia seguinte Marciano mandou um email para o grupo:

Fomos derrotados pela tiazinha do Mauro. Jogo a toalha.

Abraços, Marciano 


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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