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Colunas


Despedida de Solteiro
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 13-12-2011

 

Já faz um ano. Era um fim de tarde de dezembro e o clube estava animado com os preparativos da Regata Volta à Ilha. Alheios à movimentação dos marujos havia um grupo sentado sob o quiosque bebendo cerveja e discutindo o programa da noite, a despedida de solteiro do Amílcar Vasco Mello. A festa seria em grande estilo num puteiro de luxo que estava reservado para o grupo, haviam sido contratados: buffet, uma banda de rock, strippers (default), até motoristas para dirigir bebuns de volta para casa. Amílcar iria abandonar a vida de solteiro de forma inesquecível. E pela quarta vez.

Finamente trajado apareceu Maurinho, cujo diminutivo no nome não se deve à idade, mas a ser pequenino, gorduchinho, ele já tem uma pata quase pisando os cinquenta. Mesmo no calor incipiente do verão que se aproxima, mantém a gravata apertada no pescoço, não se livra de seu uniforme de advogado, é conservador e formal. É hábito dele se encontrar com os amigos todas as quartas-feiras no Veleiros da Ilha, na happy hour, para um papo e algumas cervejas, é o único dia da semana que não vai para casa depois do trabalho porque é quando sua esposa médica está de plantão.

Marciano recebe o amigo com ironia.

- “Não vais me dizer que viesse pra despedida de solteiro do Amílcar.”

O chegante cumprimentou a todos com um gesto e arrastou uma cadeira de plástico para se sentar.

- “O Miquinha vai se casar de novo?”

- “Vai.”

- “Porra, eu já fiz três divórcios pra ele!”

Roda encheu um copo e ofereceu para o amigo. Enquanto o causídico saboreava a bebida, ele complementou:

- “Disse que está apaixonado, que a Danielle é a mulher da vida dele.”

Marciano fez sua observação sobre o caso.

- “É de se admirar essa paixão, se fosse o doutor Maurinho que se metesse com alguma franga fora do casamento, seria de se esperar que ficasse apaixonado, mas um putanheiro tarimbado como o Amílcar não podia cair assim tão fácil.”

- “Peraê, porra! Que é isso? Por que é que eu vou me apaixonar se me meter com alguma franga?”

- “Porque tu não estás acostumado. Se pegas uma gatinha nova, cheia de saúde e carinho, vais achar que é a única coisa boa na terra. Aí comparas com o que comes requentado em casa e, pronto, não queres mais a comida caseira. Fodeu com a gata e com o casamento.”

- “Isso não é assim, eu não fico pulando cerca porque tenho coisa boa em casa. Não preciso e não vale a pena.”

Loyola, que permanecia quieto, acordou da catalepsia e fustigou:

- “Maurinho, não adianta fazer propaganda da tua baranga que nós não queremos. Podes ficar com ela pra ti.”

- “Onde vai ser a festa?”

- “No Doces Suspirus.”

- “Não conheço, é uma confeitaria?”

Gargalhada geral. Marciano foi quem respondeu.

- “É que tu és caseiro, não sabes que se trata de um puteiro refinado. Acho que o Miquinha se esqueceu de te convidar, talvez por seres tão caseiro. Mas eu te convido. Vamos?”

- “Acho que não fica bem, eu, um homem casado, no meio desses solteiros.”

- “Vai ter mais casados, pode acreditar.”

- “Quem?”

- “Não sejas indiscreto, não contamos isso, só vai saber quem for.”

Maurinho hesitou, mas os convivas o provocaram acintosamente, disseram que ele tinha medo de se apaixonar por alguma menina. Depois da segunda cerveja, por orgulho, aceitou o desafio.

O ingresso à festa deveria ser complicado, havia rigoroso esquema de segurança e apenas os credenciados que tinham pagado antecipadamente as trezentas pratas poderiam entrar, mas Marciano era do comitê organizador e foi ele quem entregou a lista de convidados ao porteiro.

- “Esse aqui é o doutor Mauro, que vai por minha conta.”

O brutamontes abriu um sorriso franco.

- “Seu Marciano, aqui é o senhor quem manda. Fique à vontade e tenha uma boa diversão.”

Não se programara uma suruba propriamente, tanto que não havia garotas em número suficiente para atender todos os homens, se o objetivo fosse esse. Elas fariam seus shows eróticos, provocariam os presentes sentando-se seminuas nos colos, convidariam alguns para dançar e cantar com elas. E assim rolou a festa com cerveja, champanhe e uísque.

Maurinho inicialmente permaneceu quieto, de certa forma até demonstrava não estar satisfeito com a orgia ritual. Tinha o semblante fechado e não atendeu às primeiras investidas das meninas. Em atitude de defesa agarrou-se ao copo de uísque, que encheu e esvaziou três vezes. De repente sofreu uma metamorfose alcoólica, passou de santo a demônio, folgou o nó da gravata e começou a dançar e atiçar as strippers. Uma mulata que vestia apenas uma calcinha enfeitada com paetês, com pingentes grudados nos mamilos, agarrou sua gravata e o puxou para a pista de dança. Marciano comemorou.

- “Vai Maurinho, mostra o que um santo advogado sabe fazer!”

A moça se esfregou nele, deitou a carcaça do desinibido etílico de costas no palco e rebolava provocativamente com voos rasantes de suas nádegas sobre a advocatícia barriga arfante. Ela tinha habilidade de manipular sem que as vítimas reclamassem, pelo contrário, até demonstravam gostar. O show do casal terminou com o bacharel orgulhosamente de quatro sendo cavalgado por ela que usava a gravata como rédea. A plateia uivava.

A festa continuava e outros pares foram formados com a convocação dos convivas mais afoitos, e o clímax foi uma loura peituda que fez um strip tease e depois convocou o noivo para o palco, onde ela o despiu. Deixo aos leitores imaginar a sequência do pas-de-deux.

Mas Maurinho, agora à vontade, chamou a mulata para ficar sentada no seu colo até o fim da festa, quando foi carregado, não em triunfo, mas quase em coma, realmente em estado deplorável, para casa.

Na quarta-feira seguinte o assunto no quiosque era a comemoração passada, apesar de ser a data da premiação da famosa regata e haver um jantar monumental no Veleiros da Ilha.

- “Rapaz, eu nunca pensei que o Mauro fosse capaz de fazer o que fez!”

- “É mesmo, logo ele, tão certinho.”

Marciano expressou sua preocupação:

- “Eu fiquei preocupado, ele não é acostumado a isso, corria o risco de se apaixonar por uma vagaba.”

- “Que nada, ele soube se controlar, só se divertiu e pronto.”

- “Tinha medo de ele gostar muito da farra, cair na putaria e terminar com o casamento, eu não ia me perdoar.”

Mas Maurinho não apareceu naquela tarde-noite.

Durante três meses, todo o verão, ele não surgiu para a tradicional cerveja, até que Roda ligou para o escritório e o convocou.

- “Tás brigado conosco? Ou é vergonha da festa?”

- “Nada disso.”

- “Então aparece.”

E ele apareceu.

O assunto voltou a ser a festa, já esquecida da maioria.

- “Mauro, nunca pensei que tu fosses te divertir tanto.”

- “Nem eu.”

A conversa trafegou por detalhes, cada um contou sua versão da cavalgada da mulata, dos rasantes sobre a barriga dele.

Terminada a fase eufórica, Roda queria saber o motivo da ausência.

- “Me explica por que tu não tens vindo mais nas quartas-feiras.”

Mauro ficou nitidamente encabulado, esperou um pouco para ver se não havia outra pergunta para se evadir daquela. Não houve. Um silêncio quase judicial parecia ser o momento em que se espera que um acusado conte sua versão de um crime hediondo.

- “É por causa da Dora.”

- “Que Dora?”

- “Aquela mulata do show.”

- “Ficasse com vergonha do que fizesse?”

- “Não, é porque eu só posso me encontrar com ela quando a Nara tá de plantão.”

Todos olharam para Marciano.

- “Porra, eu não disse?”

Roda invocou lembranças da última reunião.

- “E aquele papo de que não beliscavas fora do prato? Dizias que não precisavas e tal e coisa, como fica?”

- “Ainda acho que o casamento é bom, mas uma guria de vinte e dois aninhos é o bicho.”

- “Não vais te apaixonar?”

- “Que nada, é só algumas vezes e caio fora.”

- “Já faz três meses.”

- “Isso tudo? Caramba, nem percebi!”


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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