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Colunas


Encontro na Varanda
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 20-06-2012

 


Na última viagem relâmpago que fiz ao Rio fui convidado a me encontrar com três velhos camaradas do Colégio Militar. Temos esta estranha mania de manter amizades que duram mais de meio século e, quando nos reunimos, passamos por metamorfose regredindo à adolescência. Trocamos insultos, piadas, sacanagens e confidências. Ultimamente, todos sexagenários, nosso escambo inclui receitas e efeitos de medicamentos. Todos juntos, dada a quantidade de remédios que cada um toma, sempre com aprofundado exame das bulas, consultas à internet, discussões em grupo, podemos dar palestras de farmacologia, até mesmo exercer medicina ilegal dando consultas a amigos da pior idade. Aproveito o espaço para reclamar dessa hipocrisia de aeroportos chamando os velhinhos com aquele deboche:

- “Têm preferência os da melhor idade.”

A melhor idade vai dos dezoito aos vinte e cinco anos.

O fato é que ainda temos vigor para derrubar alguns litros de cachaça escocesa, ou uísque de cana, cerveja, vinho, o que vier que tenha álcool, comer como náufragos, e mentir como sempre fizemos, principalmente falando de mulheres. Se nós tivéssemos feito tudo o que contamos hoje, mais da metade estaria com SIDA, aquela moça que quando agarra o sujeito só larga no túmulo. Em inglês a sigla é AIDS.

O encontro foi marcado pelo Clovis Maia na varanda do Iate Clube do Rio de Janeiro. Temos quase de 200 milhões de brasileiros, dos quais cerca de 12 milhões no Grande Rio, mas apenas três mil associados dispõem do privilégio de curtir a maravilhosa vista e o aprazível alpendre com regularidade. Quem não é sócio só entra lá a convite, um regalo da maior importância. Se o leitor não conhece o local, recomendo que procure entre seus conhecidos alguém que seja ou que tenha um amigo sócio para desfrutar de um chopinho com tira-gostos numa de suas confortáveis mesas. É como a SIDA, a recordação gostosa vai lhe acompanhar até o túmulo.

Pois o amigo Maia ocupou uma das mesas estrategicamente colocada diante do restaurante bem cedo e, na companhia de mais dois associados que tomavam vinho, pediu um prato de salgados diversos, pão, gelo e depositou sobre a toalha alviceleste uma garrafa de dourado uísque do Joãozinho andarilho de rótulo preto. Passados alguns minutos levantaram-se para cumprimentar outros convivas que estavam no lado de dentro da parede de vidro, onde permaneceram por aproximadamente vinte minutos.

Maia retornou só, os amigos ficaram para o jantar, e encontrou uma pessoa sentada à mesa, portando um copo de chocolate com leite, comendo avidamente do prato de salgados. Tratava-se de um velho e arrogante militar que lhe era de alguma forma desafeto. Maia elegantemente não deu detalhes de suas diferenças, apenas disse que ele é daqueles que passam e não respondem a cumprimentos.

- “Cavalheiro, esta mesa está ocupada.”

- “Ocupada? Não tinha percebido.”

- “Não percebeu? Uma mesa com comida servida, uma garrafa de uísque, copos, gelo, meus óculos, tudo intocado, não me parece que possa ser considerada desocupada.”

A soberba de certos indivíduos pode ser seu ponto fraco. Qualquer cidadão normal, qualquer de nossos colegas de Colégio Militar, que continuaram ou não a carreira das armas, não faria o que o cidadão fez. Pelo menos aqueles com quem mantenho viva a amizade de mais de cinco décadas. Sequer pensou em se desculpar.

- “Eu pago.”

- “Isso mesmo, quem come tem que pagar, eu não esperaria outra atitude sua.”

O individuo se levantou e se dirigiu ao garçom pedindo para fechar a conta da mesa.

- “Não precisa pagar tudo, basta o que comeu. E, por favor, leva esse prato daqui.”

- “Eu não quero.”

- “Garçom, se ele não quiser joga fora que eu não sou xepeiro.”

Maia percebeu que era momento da vingança tardia, que é doce, e o general, que estava cada vez mais indignado, fez uma agressão verbal típica de quem pensa que prevalece com sermões a pleno peito.

- “Eu lhe conheço e sei muito bem quem é o senhor!”

- “Eu também sei, o senhor nem me cumprimenta, é por isso que lhe estou cobrando. Se não fosse sua soberba até lhe convidaria à mesa.”

- “Esta é noite é lastimável.”

- “Isto depende de ponto de vista, eu a estou achando memorável.”

Cheguei um pouco depois do acontecimento e me instalei confortavelmente à mesa, no exato posto onde se sentara o amargurado coadjuvante e me servi do bom cachorro engarrafado, de acordo com Vinícius de Moraes. Foi então que todo este diálogo me foi contado pelo protagonista, que teve muitas testemunhas e que me foi confirmado pelas pessoas que passavam pela mesa perguntando pelo destino do arrogante milico.

Pouco depois dois associados íntimos do meu anfitrião se chegaram para filar um pouco da birita e novamente o assunto voltou à baila. Um deles queria um habeas corpus para permanecer ali e faltar a uma visita agendada com a namorada. Já vi muitos homens inventarem coisas para não irem para casa, mas pedir aos amigos para ligarem para a amante dizendo que ele tem compromisso é inédito. Está na hora de trocar de amante. Pois pediu ao Maia que explicasse ao telefone que estavam em uma reunião importante, que não poderia comparecer. Ele concordou, tomou o telefone e falou de forma apimentada:

- “É uma reunião de conselheiros, as garotas só chegam daqui a uma hora.”

Dia desses ouvi de um conhecido que alguma coisa estava errada com ele, estava gostando mais de sexo com a esposa do que com a amante. Eu acho que a esposa tem direito a ter tudo melhor do que a filial, menos sexo, se isto está acontecendo com você, corra ao psiquiatra ou troque de amante. Mas guarde bem a matriz porque é muito valiosa e rara. E se você é mulher, a regra também se aplica.

Os gajos eram de idades que regulam com as nossas, cabelos brancos, a pele crescida como a de um sabujo velho e, por isso, está bem enrugada, barriga estufada e, especulo, alguma flacidez peniana. Eis que chega mais um associado para cumprimentar o dono do uísque e perguntar do entrevero. Aproveitando que o chegante era um médico, ouvi a questão:

- “Tem Viagra pra mulher?”

- “Não tem e não adianta tomar que não faz efeito nenhum.”

- “Não dá nem um calorzinho lá embaixo?”

- “O Viagra não dá libido, ele só irriga o pênis para aumentar a ereção.”

- “Não infla aquele botãozinho de rosa?”

- “Não.”

- “Eu tenho que dar um jeito na patroa, ela não está querendo nada comigo.”

Mas o sábio Maia, homem de grande vivência mundo a fora, interferiu apropriadamente.

- “Se ela tomar pensando que vai dar tesão, vai dar.”

- “Isso nós chamamos de placebo.”

Com essa explicação técnica o galeno se retirou. Ficamos, pois, ali a discutir qual dos comprimidos ele deveria ministrar à sua frígida esposa quando, quase que juntos, chegaram Shop-Shop e Dias Ramos, os dois colegas que comporiam a programada tertúlia. Fizeram-se as apresentações e o papo seguiu.

- “Maconha.” – Ouviu-se no ambiente.

- “Maconha?”

- “Isso, dizem que potencializa o que a pessoa está querendo fazer.”

- “Então pode esquecer, se ela já não quer fazer, aí é que eu fico na saudade.”

Interessante surgir tal sugestão entre pessoas que não sejam usuárias da droga. Ou que dizem não o consumir, nunca se sabe.

Não lembro quem foi, eu já havia tomado muitas doses de uísque, que citou um pesquisador americano que corre o mundo experimentando variedades cultivadas em vários países e que descreve sabores e efeitos como fazem os enólogos. Acho que é o primeiro canabisólogo da história universal. Ou seria baseadólogo? Também foi comentado que há lojas especializadas nos Estados Unidos no assunto, com canabis de diversas procedências e inúmeros artefatos e acessórios para fissurados ou pacientes de várias enfermidades.

Não sei se procede a informação, mas um dos doutos e sábios presentes afirmou que a maconha aumenta a tolerância à ingestão de medicamentos por aidéticos. Senhores apreciadores de baseado, nem pensem em sair por aí soltando a franga, ou a roda, sem camisinha, que no Brasil nem por receita ou recomendação médica pode comprar. E ainda não se pode fumar a droga em público.

Por um desses acasos que só acontecem com quem tem gabarito, um dos sócios do clube, o Haroldo, havia sido aluno do Shop-Shop e também professor da PUC. Contaram causos e intrigas palacianas tão comuns nessas academias, mas só me lembro de nossas gargalhadas.

Os associados se retiraram e passamos a discutir sabores de bebidas e lugares de boa comida, coisa de maconheiro com bode de rango. Acho que foi o Shop-Shop, que sempre se vangloriou de ser muito galinha, o comentário:

- “Se estivéssemos conversando há trinta anos, estaríamos falando de sabores de louras e morenas, brancas, negras e mulatas, em lugar de restaurantes, prostíbulos de qualidade, essas coisas.”

- “Podemos falar, ainda lembro de muita coisa.”

- “É bom que se aproveite do sexo o máximo, um dia será apenas uma doce recordação.”

Dos assuntos mais importantes da noite veio a declaração de amor do Dias Ramos pelo genro, com quem trabalha.

- “Se minha filha larga dele eu estou perdido.”

Outra coisa comum entre nós é o lado feminino que se apodera do grupo, depois de velhos padecemos dessa luta de todas as mulheres: uma eterna vendeta contra a balança. Mastigando um acepipe, Maia comentou:

- “Eu sempre fui gordo, agora com 130 quilos, mas olhando meu passado afirmo que engordei menos do que vocês.”

Foi endossado por Dias Ramos:

- “É verdade, quando casei eu pesava 57, agora estou com 110 quilos.”

Pelo bom humor dos presentes e pelo perímetro abdominal temos fortes candidatos a Rei Momo.

Graças a Deus eu tomei muitas doses do tal uísque e prudentemente já não me recordo mais do papo, o que seria um perigo diante das inconfidências feitas entre nós. Não consigo me lembrar de jeito nenhum, nem sob tortura.

Já estava diminuindo o meu teor alcoólico, a sensatez me voltava à mente quando resolvemos jantar, opção que fiquei apenas com a sobremesa que dividi com meu amigo Shop-Shop. Ele devia trabalhar na Receita Federal, confiscou 25% de meus rendimentos calóricos.

Azar o dele, eu não tenho ainda nenhuma preocupação com colesterol, triglicerídeos e glucose.

Felizmente nem com a balança.


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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