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Arquiteto Afeminado
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 26-09-2011


Maria Julia, paulista de Itu, estava casada havia pouco mais de um ano. Seu marido era um próspero pecuarista sul-mato-grossense, doze anos mais velho do que ela, era o segundo casamento dele. Já tinham um rebento, um menino de quatro meses quando vieram para Floripa passar vinte dias de férias numa casa alugada em Jurerê Internacional. 

Ficou encantada com o que viu.

- “Bem, isso aqui me lembra da Flórida! Eu queria uma casa dessas pra morá!” 

É típico o pessoal do interior de São Paulo e dos estados circundantes comer os erres dos verbos e exagerar com erres de língua enrolada no céu da boca quando empregam nas demais palavras. Às vezes os eles também são pronunciados assim. Sordado marvado... Coisa de bugre, no tupi não tem o fonema ele.  

Já ia me esquecendo do conto... Maria Julia observava as placas nas obras das casas mais chamativas e logo fez associação do nome do arquiteto com os estilos que mais lhe agradavam. Na caminhada diária, de casa para o mar, ia sonhando com um bairro igual a Jurerê em Campo Grande. E fotografava.

As férias se acabaram e voltaram com a caminhonete cheia de tralhas, o que fora para a praia mais as bugigangas compradas na ilha. Além disso, a jovem esposa levava as imagens do bairro que a encantou. Tornou-se uma chata. Cada vez que alguém chegava para uma visita, ou uma conversa informal, ela mostrava as fotos no notebook.

Tinha mais de trezentas delas de casas na praia, de onde contava maravilhas. Nem quando fora para Miami em lua-de-mel ficou tão impressionada.  Roney, o marido, começou a ficar cansado de tanta conversa sobre a viagem, de tanto sonho de uma casa nova. Moravam bem, casa com piscina, cinco quartos (todos com banheiro privativo), garagem para vários carros, era enorme, mas sua esposa sempre dizia que era confortável, porém de mau gosto. Era mesmo.

Ele não tinha lá muita fineza, gostava de aparecer, era daqueles que carregam autofalantes na picape para incomodar os vizinhos, e sabia que era bastante brega. A única coisa que ele percebia que tinha, com certeza, que era de estonteante beleza, era Maria Julia. Como presente de segundo aniversário de casamento resolveu que daria uma casa nova para a mulher. 
- “Lembra do arquiteto que cê gostou lá de Floripa?” 
- “O nome dele é Giuseppe Fragentelli, eu anotei o telefone e o email.” 
- “Tu já tava desconfiada?” 
- “Ah, meu amor, eu sabia que cê ia me dá uma casa nova, muito linda.” 
Maria Julia ganhou o sonho de uma mansão, Roney ganhou várias noites de sexo apaixonado. Ele curtiu os carinhos da esposa e pensava que aquele investimento, diante de tantos bois que tinha, não era mais do que um pelo, para um boi. Ligou pro arquiteto. 
- “Giuseppe, meu nome é Roney, eu queria um projeto de uma casa na minha cidade, Campo Grande.” 
- “Bah, preciso ir até lá, conhecer o terreno, saber dos hábitos de vocês, do que fazem de lazer, como vivem. Eu projeto casas para a família aproveitar, tchê, caso contrário, logo depois começam as reformas e a minha obra de arte vira um lixo.” 
- “Ótimo, pode ficar na nossa casa, vai ser um prazer.”

Na terça-feira seguinte o arquiteto chegava bem vestido, com roupas de grife, portando notebook, câmera fotográfica reflex e mala Gucci.  Naquela noite jantaram em casa, os moradores tinham uma empregada que era excelente cozinheira e preparou um assado de vitela com legumes. Beberam cerveja e depois conversaram.

Era o começo da pesquisa que o profissional faria para definir as necessidades e conveniências do projeto.  
- “Maria Julia não tem emprego, mas trabalha como voluntária na recuperação de alcoolistas e outros viciados.”
 Giuseppe sentado de pernas cruzadas, com trejeitos afeminados, anotava numa caderneta. Distraidamente perguntou: 
- “Ma, guri, ouvi falar que as alcoólatras não têm cura.” 
- “Não diga isso, eles se curam, mas não podem experimentar a bebida.” 
Continuou perguntando. 
- “Que fazem de lazer?” 
- “Gostamos de cinema, eu quero um rome-tíatre bem legal.” Roney interveio na conversa. - “Com uma tela bem grande que é pra nóis vê putaria.” 
- “Credo, bem, que grossura!” 
- “É uma piada, ora.” O arquiteto deu uma risada e interpelou. 
- “É assim sempre, estou acostumado.” 
Então o marido deu asas à curiosidade. 
- “O que cê gosta de fazê?” 
- “Gosto de pintura, tenho um ateliê em casa.” 
Maria Julia queria saber de intimidades... 
- “É casado?” 
- “Não. Sou gay e não costumamos nos casar.” 
- “Sempre quis saber como é. Quando é que você descobriu que era gay?” 
- “Não descobri, quando eu tinha oito anos, lá em Porto, eu brincava com um vizinho de troca-troca, me acostumei assim.” 
- “Nunca teve namorada?” 
- “Nunca nem pensei nisso, só fiz com outros rapazes.” 
Roney abreviou o papo. 
- “Quem passa pro lado de lá não volta. O Ermenegildo, aquele pecuarista de Alegrete, diz que viado é como cachorro comedor de ovelha, só matando.” 
Pouco depois tocou o telefone.
- “Julinha, o capataz da Fazenda Flor do Teles Pires disse que tem uma praga lá, que hoje morreram trinta de duas reses. Vou pegá o avião e me mando cedinho. Cê mostra o terreno pro Giuseppe e continua conversando com ele, acho que só volto em dois dias.” 
- “Ele fica em casa só comigo?” 
- “Seria perigoso se a bicha ficasse só comigo.” 
Na noite seguinte Maria Julia não convocou a cozinheira, ela mesma preparou um jantar, escolheu um vinho espumante e esperou que seu filho ferrasse no sono. Vestida de forma provocativa, queria ver se era verdade, se homossexualismo seria uma doença incurável, um caminho sem volta.
E o apelo era grande, ela olhava para o arquiteto, de modos requintados, e via um homem. Belo, atraente. Seria apenas um flerte. Depois do jantar ela ligou a música e o convidou para dançar. Apertou seu corpo contra o dele, o rosto colado sentindo a respiração no ouvido. Música lenta, passos controlados.
Ela percebeu um volume crescer contra seu ventre. Então, excitada, beijou-lhe o pescoço. Maria Julia procurou fazer exatamente o que ela imaginava que um parceiro homem faria com ele. Depois foi a vez dele devolver carinhos. 
Foram duas transas quase que em seguida, ele era excelente parceiro sexual, ela não tinha parceiro tão bom desde o tempo de solteira, quando fez uma excursão com a escola de Itu para o Rio. Estavam deitados nus no sofá e ela comentou: 
- “Eu sabia que esse negócio de viadagem tem cura. O que falta é competência.” 
- “Tem não. Eu não sou viado, coisa nenhuma.” 
- “Cê mentiu?” 
- “Quando tu me disseste que trabalhavas com recuperação de drogados, eu percebi que ias querer me curar.” 
- “Que danado! Me enganou mesmo. Só não deixa o Roney saber.” 
- “Podexá, não és a primeira, eu já tou acostumado.” 


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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