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Colunas


Cidadania italiana postergada
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 23-11-2011


Marciano retornou ao barlavento naquela tarde longa de verão, procurou por caras conhecidas entre vários visitantes que chegavam ao Veleiros pelo mar, contumazes invasores desta época do ano. À sombra do quiosque de palha estava Jorginho que dividia cervejas com Roda. Vendo os dois amigos, chegou-se sorridente.

- "Quem tá vivo sempre aparece!"

Roda não tinha notícias do companheiro havia muito tempo, perguntou sobre uma viagem programada e anunciada em efusivas bebedeiras.

- "Como é que foi o juramento de bandeira na Itália?"

- "Não fui."

- "Como não foste? Disseste até que tinhas uma sexomassoterapista pra te acompanhar na viagem e te curar com massagens da dor no nervo ciático e, agora sou eu quem diz, dessa tua broxura quase sexagenária."

- "Tive uma crise aguda de apendicite e tive que ser operado. Não pude ir."

Jorginho sabia da viagem a fundo, tratava-se de uma mulher que desejava entrar na Itália como turista e não mais voltar, usando a companhia de Marciano que estaria fazendo seu juramento à bandeira, quando confirmaria sua cidadania. Fora ele quem apresentou Michelle ao amigo e ela lhe telefonou na véspera da viagem contando que Marciano não poderia ir, que estaria sendo operado. Fez-lhe uma visita uma semana após a cirurgia, quando já estava em casa, depois saiu com o veleiro pela costa catarinense com uma nova amiga, companhia temporária, vinte e cinco anos mais jovem que sua ex-mulher de quem se separara havia apenas quatro meses. Desde então não tivera mais notícias do convalescente.

- "Já estás recuperado?"

- "Praticamente. Agora estou fazendo fisioterapia e logo volto à vida normal."

Roda estava penalizado pelo amigo que havia demonstrado muita excitação com a perspectiva da viagem. Tinha motivos para isso, teria acompanhamento profissional, uma experiente e consagrada especialista em massagem tailandesa que, nesta nossa ilha mágica, dizem que as operárias do amor fazem com os seios. Se o leitor é homem, sonhe, se for mulher pense em aprender... Apesar da profissão judiar das mulheres, esta ainda era bela, tinha porte de atleta e despertava a libido dos homens. Roda, solidário, imaginava o quanto ele estaria frustrado. Estava sofrendo em pensamento com o companheiro, solidário, mas amigo que é amigo não perde a oportunidade de sacanear o próximo.

- "Tu já não eras um grande comedor, assim de molho deves estar há uns dois meses sem ver uma xana."

Jorginho aproveitou sobra na linha do gol e chutou.

- “Ele tem assinatura da Playboy TV. Ver ele viu.”

Admitir que a vida vai mal é possível. Pode-se aceitar ser taxado de péssimo atleta, músico sofrível, médico ruim, advogado incompetente, mas é muito duro para um cidadão macho e normal que alguém levante a hipótese de que esteja com a troca de óleo vencida há muito tempo. Homens negam, ou mentem. Sempre.

- "Tenho meu plantel."

- "Mandasse email pra todas elas convocando o exército do amor?"

- "Mandei."

- "Duvido que alguma dessas tenha se apresentado como voluntária."

- "Nessa época da ano a mulherada viaja. Fica difícil."

- Ahá! Não disse?"

- "A Carlinha topou."

- "Então não deu certo."

Marciano olhou para o amigo com expressão de surpresa, estampada na face em frase dita sem palavras. Mas admitiu.

- "Como é que sabes?"

- "É fácil, eu conheço essa Carlinha. Tu só podias ficar deitado de barriga pra cima, estavas prejudicado, tinha que ser tudo por conta da parceira, não é?"

- "É."

- "Mas a Carlinha pesa cento e vinte quilos, se ela senta na tua barriga os pontos arrebentam. Acho que com ela só daqui a seis meses, quando o médico liberar."

Jorginho estava pensativo e deu uma sugestão de “amigo muy amigo”.

- “Pega a Judite.”

Marciano olhou assustado.

- “Tás dizendo pra eu pegar a tua mulher? Tás é doidinho pra ficá maluco, ô!”

- “Ex, Marciano, ex-mulher!”

Roda percebeu a oportunidade e estocou.

- “O Jorginho agora tá dando uma de alcoviteiro da mulher.”

- “Tenho que arranjar alguém pra ela parar de me encher o saco.”

- “Quem diria, eu me lembro de tu saindo na porrada num baile de carnaval no Doze, só porque cismaste que um sujeito tinha olhado pra tua mulher. Onde anda aquele ciúme todo?”

- “Troquei pelo de duas de vinte e cinco anos menos.”

Marciano bebe um pouco de cerveja ouvindo o diálogo e intervém.

- “Como é o nome dessa namorada que levasse no barco?”

- “Bruna, mas não é namorada, é amiga.”

- “Qual a diferença?”

- “Não temos compromissos, ela tem namorado e eu ainda estou procurando uma.”

- “E as duas de vinte e cinco que falaste?”

- “É simbólico. É só pra definir meu atual campo de atuação.”

- “E por qual motivo tu achas que eu vou abrir um asilo para velhinhas abandonadas?”

- “Eu tava só pensando em te ajudar num momento de seca, acamado e sem uma mão feminina.”

- “E tu me mandas tua baranga descartada?”

- “A Judite não tá um Cadilac bem conservado, mas não chega a ser baranga.”

- “Não engrola, é baranga há muito tempo já.”

Jorginho não gostou da observação do amigo.

- “Peralá! Já não é minha mulher, mas era. Não é e nunca foi baranga, vamos parar com isso, porra!”

Roda fez sua observação contundente.

- “Jorginho, a Judite andava dando mole pra galera, faz alguns anos, uns oito, eu acho.”

Momento de tensão, Jorginho sentiu a frase pesada como uma acusação séria, porém indefinida.

- “Isso quer dizer que fui corno, ou que quase fui corno?”

Marciano aproveitou o momento.

- “Há duas coisas que nesta terra não existe ex: não se conhece ex-viado, nem ex-corno de uma mulher.”

- “Não dá pra viver com uma dúvida dessas, me conta aí, Roda, tu comeste a Judite?”

- “Claro que não, nem precisava perguntar.”

Jorginho levanta um copo recém abastecido de dourada cerveja e brinda a frase do amigo.

- “Amigo é isso, faz sacrifícios. Obrigado por isso.”

- “Se estás pensando que não comi a Judite por amizade, pode mudar de pensamento.”

- “Então por que foi? Faltou coragem ou ela não quis nada contigo?”

- “Nem uma coisa nem outra, talvez um pouco de coragem, mas em outro sentido. A verdade é que comer aquela baranga ia queimar meu filme.”


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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