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Colunas


Malandro é Malandro
por Moacir Henrique de Andrade Carqueja

Data: 03-04-2012

 

E mané é mané. Nada mais carioca, nada mais verdadeiro.

Foi pensando nesse ditado popular que me veio à mente o propósito de misturar coisas do noticiário recente na televisão brasileira. Começou com uma reportagem mostrando a negociação de propinas na doença (não me conformo de chamarem de saúde, se só vai a hospital quem realmente não a tem) no Rio de Janeiro. Dizem que o Brasil melhorou, mas no tempo dos milicos ninguém tinha culhão de cobrar mais do que 10% de comissão, agora a coisa começa com 20%. Ou seja, o que era ruim está pior. Concomitantemente rola a notícia do pastor que arrecadou uma grana para comprar uma fazenda, coisa que indignou muita gente.

No caso da saúde é roubo, dizem que na China isso resulta em tiro na nuca no estádio, onde há disputa pelos ingressos e o espetáculo é mais concorrido do que futebol. E a família ainda paga a bala. Aqui dá em conversas, cervejas, pizzas e contas no Caribe. E eu digo que se colocarem grampos nas prefeituras (todas), nas delegacias do IBAMA, nos órgãos ambientais estaduais e municipais, vai dar a mesma coisa. É uma quadrilha de mais de cinco milhões de funcionários públicos.

Já no caso do pastor Valdemiro Santiago, não se trata de ladroagem, mas de burrice crônica do povo. Vou defender esta tese, como segue.

Todos sofremos com as questões clássicas: quem somos, de onde viemos e para onde vamos? Sou materialista, cartesiano, ateu e cristão. Sempre que digo isso os carolas se encrespam e dizem que ninguém pode ser ateu e cristão. Pode crer em Deus e não ser cristão? Não vale o vice-versa? Sou ateu, ponto. Sou cristão por cultura, não por religião. Há árabes e judeus ateus também. Todo ateu que vive no Brasil é cristão por convívio com uma sociedade de princípios cristãos. A religião não consegue responder de forma lógica às perguntas; as mulheres não foram feitas da costela do Adão, e ninguém voltou do paraíso, ou do inferno, para contar como foi lá, mostrar fotografias, filminho na sala de troféus de Lúcifer, com o craque da maldade se vangloriando de ter conquistado maior torcida do que a de São Pedro. Como Fla e Flu. Claro, tem mais gente em baile Funk do que em paróquia de igreja messiânica, católica, ortodoxa, tudo junto.

Fora da religião a filosofia também tenta explicar o sentido da vida, mas a verdade é que não sabemos mesmo para que serve nossa existência. Temos que carregar o peso dessa ignorância, a dor de ter consciência de que vamos desaparecer sem deixar vestígios. Mais cedo ou mais tarde nenhuma marca de nossa passagem restará; primeiro nós, depois a humanidade, depois até o planeta terra, tudo vai desaparecer.

Cada pessoa lida com isso de forma pessoal e a angústia da tomada de consciência desse paradoxo existencial toca cada um de nós diversamente. Apesar das diferenças, somos todos desesperados barganhando a cada pulso cardíaco para viver mais um segundo de cada vez. A certeza de saber que vamos desaparecer nos causa imenso pavor e precisamos de algum entorpecente para isso, na droga, no álcool, na cultura, no sexo, na religião. Escolha o seu.

Sabedores que nosso tempo é finito, que nossa existência, por mais longa que seja, não vai passar de algumas décadas, instintivamente buscamos alongar este período, mesmo sabendo que tem data de vencimento. E existe uma forma de fazer isso, que é viver mais emoções durante este período, viver mais intensamente, fazer mais coisas. Se a mala já está comprada, para levar mais bagagem tente compactar o que vai dentro. Com isso passamos a ter pressa, enorme pressa. Uma viagem a pé de Floripa ao Rio levaria quatro meses, que seria o mesmo que desperdiçar este tempo. Vale a pena pagar o avião, estamos comprando quatro meses de vida, se comparado ao andarilho.

É daí que vem parte do conceito de qualidade de vida, significa o quanto desfrutamos durante nosso período existencial. Quando se olha na organização da sociedade e na forma de acesso aos recursos disponíveis para consumo, percebe-se que nem todas as pessoas terão direito a eles, posto que também é finita a capacidade de exploração de matérias primas e produção de bens. As pessoas sabem disso, mesmo que não saibam os motivos. E não é só materialmente, algumas pessoas não conseguem afeto, parceiros sexuais, amigos, conforto para o espírito. Não entendo disso, mas tenho a certeza que é preciso algo mais do que bens materiais para que as pessoas se sintam bem. Junte-se a consciência de se saber mortal, com a frustração de não ter sentido para a vida, com as derrotas diárias (materiais e espirituais) que alguns sofrem, o desespero tem explicação, mas não tem resposta. Ricos vão ao analista, pobres à igreja. Ou à macumba. Há exceções.

Surge o vendedor de ilusões. Venha para minha igreja, leia a bíblia, o livro sagrado, ditado por Deus. Só em Cristo existe salvação.

Cada uma das grandes correntes religiosas da Terra considera que seu livro sagrado seja ditado pelo onipotente, onipresente. Queimar o corão é sentença de morte, sem julgamento do infrator, que deve ser executada por qualquer fiel, porque o livro sagrado do islã foi profanado. Quem matar o herege terá o paraíso após a morte.

Fico chocado com essas crendices que se tornam verdades absolutas nas mentes fanatizadas, as pessoas se bestializam e acreditam em fatos impossíveis, não sabendo mais separar o que é simbolismo do que é verdadeiro.

Sinto que os mais desesperados precisam de alguma explicação incompreensível para dar rumo às suas vidas. Não precisam da lógica, mas de alguma fé, de algum limite imposto por alguma entidade à qual se deve obediência irrestrita. Não sei como funciona, nem desconfio do mecanismo psíquico, mas percebo que esse grupo é facilmente manobrado quando técnica adequada é empregada. Os pastores dessas igrejas de segunda linha sabem muito bem fazer isso e não têm escrúpulos em se aproveitar do processo.

Se o Bispo Macedo vive luxuosamente às custas de uma multidão de fiéis, eu digo que ele não furtou aquela fortuna, ninguém foi obrigado a dar seu custoso dinheirinho, foi dado mesmo, de coração aberto. Pode-se questionar por ter sido usada encenação, fingimento, mas a vida é assim mesmo, todos fingimos na infância para ganhar algum benefício, o choro de manha.

O pastor Valdemiro Santiago saiu da igreja do Edir Macedo porque percebeu que podia ganhar mais sozinho, em lugar de ser empregado, abriu seu próprio negócio de franquias da Igreja Mundial do Poder de Deus e vai muito bem. É um empreendedor de sucesso a ser estudado.

Todo vendedor é em princípio um sedutor. Seduzir alguém é dar a essa pessoa a ilusão de que vai ser feliz por algum tempo, algumas pessoas são extremamente sedutoras tanto para o sexo, como para as vendas. Em geral as duas coisas caminham juntas.

O pastor Valdemiro precisava de grana para pagar sua fazenda, sabia o que fazer para isso, já tinha investido na mídia para que mais pessoas pudessem ver seu merchandising, a propaganda de seu produto, ele alugou um horário na TV. O que ele vende? Ilusões, nada mais do que isso. É honesto, entrega sempre. O paraíso, a vida depois da morte, existe para quem acredita. Com isso vai-se a angústia existencial, pode-se viver sem medo, ou com menos medo, porque certeza mesmo ninguém tem, mesmo chapadão. O objetivo foi atingido, o fiel vai ser recompensado se viver de acordo com regras de conduta, rezando e contribuindo com a igreja; depois da morte não importa, o fiel está morto mesmo, não vai saber que, ou se, era mentira.

Se o histrião se apresenta contrito e chora diante da audiência pedindo que cada pessoa deposite mil reais, implora que sete mil otários façam isso até do dia seguinte, e tem otário que deposita, paciência. Foram sete mil televendas bem feitas, atingiu a meta da empresa, pode reunir a equipe e comemorar, até mesmo comprando um automóvel Ferrari.

Circula na internet o vídeo do martelinho, no qual o pastor diz que um determinado martelo de madeira quebra as pedras do caminho, isto é, afasta a amante do marido, o filho das drogas, a doença, não sei mais o quê. E ele fala de investimento, o fiel otário deve depositar mil pratas em uma das contas da igreja e vai receber em troca gratuitamente a ferramenta milagrosa, como diz a palavra de Deus. É estelionato? Não, é burrice. Se o leitor comprou a tal marreta divina, só tem uma solução, peça a algum amigo que a use em sua cabeça até que veja Deus.

Tem alguma coisa parecida com a psicanálise que, dizem os terapeutas, deve custar caro para que o paciente realmente queira se resolver. O fiel tem que dar para a igreja, quanto mais ele der, mais crescerá aos olhos de Deus, que tudo vê.

Conversando com amigos fui alertado para o falso milagre, em que o pastor contrata uma pessoa para fingir ter um defeito físico que seja curado diante da plateia; isso é fraude, estelionato mesmo e merece cadeia, porque o pastor efetivamente não consegue fazer aquilo com os doentes. É diferente do conforto espiritual.

E não é privilégio de igrejas de periferia, dizem que as penas da pomba do Espírito Santo existentes nas igrejas medievais seriam suficientes para fazer um colchão. Talvez seja exagero, mas um travesseiro dava. Haja pomba.

Sei que algumas pessoas vão discordar de mim, argumentando que os pastores fazem lavagem cerebral e extorsão de seus rebanhos, pois na verdade tudo é mentira. Observem que essas pessoas costumam ser ordeiras, cidadãs de mérito, pacíficas e trabalhadoras. De forma geral os empresários gostam de dar emprego aos crentes. Pode-se concluir que a obra social é bem feita e nem é muito cara, se comparamos com o estado. Os pastores só cobram 10%, chamam de dízimo, enquanto que os políticos estão nos extorquindo perto dos 40% em impostos. E podemos fazer uma associação malévola, pois o processo de campanha eleitoral na televisão é exatamente igual à pregação religiosa, os candidatos mentem descaradamente, contritos, chegam a acreditar que seja verdade o que dizem. De fato, não podemos esperar que esses escolhidos pela vox populi, portanto vox dei, venham a ser honestos. São todos malandros. Está bem, menos, quase todos.

O resto nasceu mané, morre mané, mas esperando o paraíso.


Moacir Carqueja
Moacir Henrique de Andrade Carqueja
Engenheiro Civil e professor universitário aposentado.Casado, pai de três filhos, residente e apaixonado por Florianópolis.


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